Isenção do IVA “baixou um pouco” os preços no país, mas não impressiona

Isenção do IVA “baixou um pouco” os preços no país, mas não impressiona

O preço “baixou um pouco” é a expressão dos moçambicanos que descreve o efeito da isenção do IVA no açúcar, óleo e sabão, no âmbito do alívio do impacto da pandemia e, agora, justificada com a “inflação da guerra”.

A professora de Biologia Luísa Muthemba não está impressionada com o novo preço do quilo do açúcar, porque “não baixou quase nada, baixou um pouco”.

“Custou-me 80 meticais, mas há um mês comprei por 85 meticais e noutras lojas eram 90 meticais. É uma redução mínima”, disse na sexta-feira à Lusa Luísa Muthemba, sobre o preço do açúcar, transportando sacos de compras de produtos alimentares.

Sobre o óleo alimentar, balança a cabeça antes de afirmar que “melhorou alguma coisa”, porque acaba de comprar o garrafão de cinco litros por 750 meticais, enquanto adquiria a mesma quantidade por mais de 800 meticais.

“Posso fazer mais fritos em casa e não viver apenas de cozidos, porque sinto que o óleo baixou mais, mas não é lá grande coisa”, sublinhou.

Belartina Massango, funcionária administrativa do Ministério da Saúde, também sente uma ligeira redução nos preços de açúcar, óleo e sabão, mas a inflação dos outros produtos do cabaz, importados da África do Sul, “abafa tudo”.

“Nota-se que alguns produtos baixaram um pouco, poupam-se 10 a 20 meticais por quilo ou litro, mas os produtos que vêm da África do Sul e que não são produzidos no país são mais caros”, explicou, à saída de uma loja da capital.

E são essas complicações que os homens não entendem, porque “eles não fazem compras”, assinalou, numa alusão à tradição do país a tarefa de ir ao mercado ser vista como feminina.

Ugome Nhassengo, que revende produtos alimentares num contentor transformado em mercearia na baixa de Maputo, afirmou que o óleo alimentar produzido em Moçambique baixou mais de 100 meticais nos últimos meses, com o impacto da isenção do IVA.

“Cheguei a vender por 850 meticais cinco litros de óleo, mas, como vê, está agora a 720, é uma redução”, destacou.

Também a caixa de 20 barras de sabão é agora vendida a 350 meticais, mas chegou a custar 420 meticais, explicou.

Mas o custo elevado dos produtos que importa da África do Sul para o seu contentor anula o efeito da redução dos preços dos bens produzidos em Maputo.

“Por exemplo, a cebola, o caldo e a maionese estão caros”, observou.

Micaela Guiole, que compra na baixa alguns produtos para vender no quintal de casa, nos subúrbios de Maputo, fez outra leitura: as isenções do IVA não compensam os aumentos que se vinham registando.

“A queda nalguns preços vem depois de grandes subidas e não se sente que os preços estejam a mudar para melhor”, notou Guiole.

“Quem disser que leva mais produtos para casa agora, acho que mente”, observou.

Numa análise consultada pela Lusa, a CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a maior associação patronal do país, defendeu um regime de IVA especial para o açúcar, óleo alimentar e sabão, tendo em conta os custos crescentes destes produtos.

A conclusão resulta de uma “monitorização” que a confederação tem realizado para avaliar o impacto da isenção em vigor.

A CTA assinala que, para ser mais eficiente junto do consumidor, o benefício fiscal deve ter incidência sobre todo o circuito económico dos bens abrangidos, recaindo também sobre os custos de importação de matérias-primas.

A inflação homóloga em Moçambique foi de 12,1% em Agosto, o valor mais alto dos últimos quatro anos e 11 meses, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os sectores de alimentação, bebidas não alcoólicas e transportes têm sido as que mais contribuíram para o aumento de preços no país.

As autoridades moçambicanas têm apontado o impacto combinado da pandemia de covid-19, calamidades naturais, conflito armado em Cabo Delgado e invasão russa da Ucrânia como factores por trás da espiral altista nos preços dos últimos meses.

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