Maputo: Justiça “engaveta” processo de jovem que perdeu olho na repressão policial

Maputo: Justiça “engaveta” processo de jovem que perdeu olho na repressão policial

A justiça moçambicana continua silenciosa face ao caso de jovem que perdeu o olho durante a repressão policial violenta da marcha em homenagem ao rapper Azagaia, um ano depois.

“No que tem a ver com a situação do dia 18 ainda não moveu-se praticamente nada. O que sei é que o processo saiu da Procuradoria-Geral da República e passou para a Procuradoria da Cidade”, explica ao MZNews Inocêncio Manhique.

“O Estado conhece as pessoas que me lesaram e essas mesmas pessoas o Estado não quer sancioná-las porque existe uma ordem superior por detrás de todas estas coisas”, afirma Manhique.

Foi precisamente na manhã de 18 de Março, um sábado, que agentes da polícia moçambicana alegaram ter “ordens superiores”, nunca esclarecidas, para disparar contra grupos que pretendiam realizar marchas pacíficas, previamente anunciadas às autoridades municipais.

Três meses depois do incidente, Inocêncio apresentou uma participação criminal na Procuradoria da República, exigindo a responsabilização da polícia e uma indemnização de 350 milhões de meticais.

Passou um ano após o episódio, mas Manhique acredita que o sentido de injustiça continuará a prevalecer face à inércia das autoridades.

“Prefiro eu acreditar que o processo não vai andar…a senhora Beatriz Buchil tinha que estar atrás de tudo isto porque foi uma das primeiras pessoas que apareceu ao público a dizer que haviam quatro agentes e até agora não moveram-se processos contra nenhum desses agentes”, lamenta.

O tempo passou, mas Inocêncio continua padecendo de dores, e admite ter medo de fazer tratamento em hospitais públicos, ademais, explica que tem uma das vidas mais caras ultimamente, pois vê-se obrigado a ter de recorrer às clínicas privadas para o tratamento.

“Quem me tem salvo na maior parte das vezes, são activistas, pessoas de boa-fé, e alguns trabalhos que tenho feito”, uma vez que o Estado não se responsabilizou por qualquer dano, nem mesmo a assistência hospitalar.

Inocêncio, que, além de activista social, agora é membro da assembleia municipal pelo Movimento Democrático de Mocambique, MDM da capital país, promete dar a voz e viajar pelo mundo para denunciar aquilo que considera de abusos e de injustiças perpetrados, segundo ele, pelo Estado gangarstarizado.

Partilhar este artigo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.