Produção de combustível fóssil deve disparar na próxima década

Produção de combustível fóssil deve disparar na próxima década

O relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) sobre o défice de produção de combustíveis fósseis prevê que os países produtores perfurem ou extraiam mais do que o dobro dos níveis necessários para limitar o aquecimento global a 1,5º C. Por conseguinte, a recuperação de petróleo e gás deverá aumentar consideravelmente com apenas um modesto decréscimo do carvão.

Um estudo do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) sobre o défice de produção conclui que os países prevêem produzir cerca de 110% mais combustível fóssil do que seria compatível com um aumento de temperatura de 1,5ºC, até ao final deste século. Para se manter abaixo deste limiar, serão necessários cortes nas emissões de carbono de cerca de 45% até 2030, com base nos níveis de 2010, e evitar-se que a temperatura suba mais de 2ºC.

De acordo com o estudo, a produção de carvão vai baixar, mas o gás vai aumentar mais nos próximos 20 anos, para níveis que são simplesmente incompatíveis com o acordo de Paris.

“A investigação é clara: a produção mundial de carvão, petróleo e gás deve começar a diminuir imediatamente e de forma acentuada para ser consistente com a limitação do aquecimento a longo prazo a 1,5ºC”, disse Ploy Achakulwisut, um dos principais autores do relatório do Instituto do Ambiente de Estocolmo.

A 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021 (COP26) vai iniciar a 31 de Outubro e parece que os maiores emissores de carbono pretendem reduzir os seus níveis de emissão.

A produção mundial de carvão, petróleo e gás deve começar a diminuir imediatamente e de forma acentuada para ser consistente com a limitação do aquecimento a longo prazo a 1,5ºC

Ploy Achakulwisut

Apesar da pretensão de emissões líquidas zero, alguns dos maiores produtores de petróleo, gás e carvão ainda não estabeleceram planos para as rápidas reduções dos combustíveis fósseis que os cientistas dizem serem necessárias para limitar a subida das temperaturas nos próximos anos.

“Os governos continuam a prever e a apoiar níveis de produção de combustíveis fósseis que são largamente superiores ao que podemos queimar em segurança”, dizem os autores.

Embora após a pandemia da Covid-19 os países tenham dedicado muito mais dos seus gastos de recuperação às actividades de combustíveis fósseis, há alguns aspectos positivos quando se trata de financiamento.

O financiamento do petróleo, carvão e gás através dos bancos multilaterais diminuiu significativamente nos últimos anos – e também de algumas das nações mais ricas.

“Este relatório mostra, mais uma vez, uma verdade simples, mas poderosa: precisamos de parar de bombear petróleo e gás do solo se quisermos cumprir os objectivos do Acordo de Paris”, disse Andrea Meza, ministra do ambiente e energia da Costa Rica.

“Temos de cortar com as duas mãos da tesoura, abordando simultaneamente a procura e a oferta de combustíveis fósseis. É por isso que, juntamente com a Dinamarca, estamos a liderar a criação da Beyond Oil and Gas Alliance para pôr fim à expansão da extracção de combustíveis fósseis, programar uma transição justa para os trabalhadores e começar a encerrar a produção existente de uma forma gerida”, concluiu.

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