Baixo orçamento deixa dúvidas sobre a natureza da missão da SADC em Moçambique

Analistas moçambicanos destacam os avanços dados pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) para o apoio a Moçambique, a combater o terrorismo em Cabo Delgado, mas desconfiam da envergadura da missão, devido à escassez de informações públicas e o orçamento definido pelo Conselho de Ministros do bloco regional, para a missão da Força em Estado de Alerta.

A SADC, foi anunciado, esta semana, vai dedicar 12 milhões de dólares para a luta contra os insurgentes atormentam Moçambique, desde 2017.

Numa reunião dos chefes da diplomacia da SADC, o angolano Tete António disse que as contribuições devem ser dadas até 9 de Julho, e que o bloco tem “essa consciência de que a região está sob ameaça, com a crise em Moçambique e todos nós temos que responder prontamente a esta ameaça que nós conhecemos na África Austral”.

Missão árdua

O professor Agostinho Zacarias, antigo vice-representante da Organização das Nações Unidas no Burundi, analisa, à lupa, os últimos desenvolvimentos em torno dos posicionamentos da SADC sobre o apoio a Moçambique. Destaca o passo dado pelo bloco regional, mas salienta que a missão vai ser árdua.

“Eu penso que a SADC não vai para lá a pensar que vai resolver o assunto num ápice; sabe que a missão vai ser árdua, daí que os próprios peritos dividiram a missão em várias etapas de intervenção” diz Zacarias, um dos especialistas africanos com experiência comprovada em assuntos de paz, segurança e desenvolvimento.

Já o pesquisador e docente universitário Calton Cadeado olha para os números do orçamento aprovado e não tem dúvidas que, para a dimensão que se espera ou se esperava, a acção da SADC está votada ao fracasso.

Bloqueio ao financiamento de terroristas

“Penso que o financiamento aprovado (12 milhões de dólares) é apenas para parte da operação, mas, de qualquer forma, olhando para o que custaria uma operação da envergadura proposta pelos peritos, o valor aprovado é tão insignificante que faz antever que a operação da SADC será um fracasso” disse, em contacto com a reportagem da VOA em Maputo.

Atento ao fenómeno do terrorismo em Cabo Delgado está também o académico Rufino Sitoi. Para ele, mais do que acções militares, o combate aos insurgentes só terá maior sucesso, fechando as torneiras do seu financiamento.

“As acções militares são importantes, mas só poderão um sucesso efectivo se forem acompanhadas por investigações que nos conduzam a saber quem são estes grupos, de onde vem o seu financiamento e poder-se fechar, por completo, as fontes de abastecimento,” diz Sitoi.

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