Afinal sabia que ninguém queria para ele se querer
Roque Silva, um membro da Frelimo, aparentemente, sem frescuras de cortesia no trato quando se trata de fazer imperar suas ideias! E eu, no meu humilde smartphone, que mais parece uma bombinha com tela, recebi alguns vídeos e “memes” onde a sua postura ditatorial era o que de mais charmoso se notava.
A minha leitura: Estas coisa de ausência de finura ao lidar com as pessoas pode ter a ver com muitos factores, educação e autoconfiança. Sobre educação de R.S vou acobardar minhas opiniões, pois posso cometer gafes, mas meramente digo que a academia parece não lhe ter compenetrado nos miolos. Agora, a autoconfiança, essa digo que parece se ter edificado em si, fortemente, nos últimos anos, mais ainda quando se tornou Secretário-Geral da Frelimo em 2017. Um cargo precioso e de alto poder no seio dos camaradas, o mais prestigiado depois do presidente do partido. Talvez isto tenha inflado mais o seu ego após ser reconduzido para o cargo em 2022.
Aliás, a sua barriga, que mais um balão inchado parece, não lhe permite curvar-se sobre ela e cuidar, sozinho, do próprio sapato. Mas R.S tem à disposição um pai de família humilhado, em prontidão para agachar-se e lhe atar os sapatos, num gesto que, com certeza, não está nas suas descrições de trabalho – talvez se encaixe naquelas partes dos CVs onde se diz que a vaga de emprego é para candidatos dinâmicos e proactivos, capazes de fazer mais do que lhes pedem para o sucesso da empresa.
Em determinada ocasião, em 2021, no distrito de Ile, província da Zambézia, Roque Silva deu a entender que na Frelimo a decisão de determinado membro manifestar sua candidatura a um cargo depende, em primeira instância, do partido.
“Ninguém deve começar agora a se preparar para ser candidato. Essa coisa de ser candidato você não pode ser voluntário. Espera aí! Os outros é que vão dizer que você dá para ser candidato. Ninguém deve ser voluntário: eu quero! Eu quero! Quem te disse que você deve querer? Nós é que temos que querer você se querer, e não você dizer: eu quero”, disse.
E, até onde a mídia nos mostrou, parece que havia, no partido Frelimo, uma conspiração para levar Roque Silva à ponta-vermelha. Mas todo plano viria a cair no lodo quando os acesos debates na sessão extraordinária do partido, entre sexta-feira e noite de domingo, levaram cinco nomes aos pleitos internos. De todos os cinco, R.S parecia o favorito devido a toda cobertura que parecia ter. Mas a humilhação deu dois sinais logo cedo.
O primeiro foi que o partido já havia preparado uma moção de censura para ele ser afastado do cargo de Secretário-Geral da Frelimo. De alguma forma soube dessa conspiração e tomou a iniciativa de renunciar ao cargo. Queria fintar a humilhação! Assim, também abdicou da qualidade de membro da Comissão Política.
E o segundo foi que na primeira volta, o seu oponente Daniel Chapo obteve 103 votos, mais 26 do que os seus 77 votos, e Esperança Bias três votos. Os outros não conseguiram votos. Aqui, de certa forma, já se antevia a sua ruína. Com efeito, Roque Silva e Daniel Chapo iriam à segunda volta. Como que antevendo uma humilhação retumbante no seio dos camaradas, Roque Silva desistiu da corrida e deixou Chapo absorver 94% dos votos, tornando-se no candidato da Frelimo para as eleições presidenciais de Outubro próximo.
Por alguns segundos pensei que no calor dos debates internos, Roque Silva engoliu a própria arrogância e esvaziou a petulância da sua barriga espetando-se no umbigo uma agulha.
É caso para dizer: Afinal sabia que ninguém queria para ele se querer!
(Texto: Emmanuel Mocinha)
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