ONG denuncia astronómica fraude milionária no Fundo para Fomento de Habitação

Um processo de contratação pública no Fundo para Fomento de Habitação (FFH) causou um prejuízo de 14 milhões de dólares norte-americanos para o Estado, revelou, hoje, o Centro de Integridade Pública (CIP).

Em 2013, o Estado recebeu, do Exim Bank da Índia, um empréstimo de 47 milhões de dólares norte-americanos para a construção de 1.200 casas nas províncias de Tete (400), Cabo Delgado (400) e Zambézia (400).

O processo para a construção das habitações estava encarregue ao FFH, e era parte do Plano Económico e Social de 2016. Até então o projecto não foi realizado. As amortizações da dívida deveriam ter iniciado em Novembro de 2023.

De acordo com o CIP, em 2014 foi contratada, após um procurement internacional, uma empresa indiana, a Ultra Home Constructions Ltda, do grupo Amrapali, para avançar com o projecto, em Tete.

Realizados os procedimentos, o FFH adiantou para a construtora 13,922 milhões de dólares, cerca de 30% do financiamento. Isto aconteceu “depois de a empresa apresentar uma garantia de pagamento adiantado e outra referente ao desempenho, ambas do International Trade Bank Ltda que, segundo declarou, estava sedeado na Itália”.

Conforme conta o CIP, após a tranche o projecto nunca avançou, e o Estado fez todas as diligências que culminaram, em 2017, com a rescisão unilateral do contrato e a descoberta, em 2017, que o International Trade Bank Ltda nunca existiu.

“A falta de fiscalização prévia da informação fornecida pelos concorrentes, em particular estrangeiros, configura-se como um erro no processo de procurement, por não ter observado o preceituado no número 3 do artigo 27 do Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e Prestação de Serviços ao Estado”, nota o CIP, que antevê prejuízos para o Estado, além do juros da dívida.

Parece, no entanto, que a burla poderia ter sido evitada uma vez que “o FFH contratou uma empresa indiana que já tinha histórico de fraudes no sector da construção e não era bem reputada”. A empresa chegou a causar desaceleração do mercado imobiliário indiano, por nunca ter concluído projectos entre 2009 e 2015. Em contrapartida, o Tribunal da Corte descobriu que os activos da empresa aumentaram de 364.669,05 de dólares norte-americanos, em 2011, para 3.586.680,05 de dólares, em 2015.

“Desde 2014, o presidente do grupo, Anil Kamar Sharma, é investigado também pelo crime de assassinato do ex-secretário do instituto educacional Balika Vidyapeeth, Sharad Chandra, morto em Agosto daquele ano”, refere o CIP.

“Em Julho de 2019, o Tribunal da Corte da Índia ordenou o cancelamento do registo da empresa sob o direito imobiliário e transferiu os projetos pendentes do Amrapali Group para a National Buildings Constructions Corporation Limited (NBCC), uma empresa do sector público subordinada ao Ministério de Habitação e Assuntos Urbanos da Índia24. Mas nada consta sobre o projecto “1200 casas” em Moçambique”, indaga.

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