AFINAL quem paga o salário dos agentes da Polícia de Trânsito? Ministério do Interior ou os transportadores públicos de passageiros? Provavelmente esta seja uma pergunta que não necessita de resposta simples, olhando para a complexidade do assunto, mas pode nos remeter a uma profunda reflexão sobre o que se passa com os membros daquela corporação.
Decidimos dedicar este espaço para reflectirmos um pouco sobre um assunto que já é do domínio de todos, incluindo das autoridades de direito. Referimo-nos à corrupção instituída no seio da Polícia de Trânsito. Na verdade, todos nós sabemos como é que alguns agentes se comportam quando se fazem à estrada, pois, mais do que regular o trânsito, estão atentos para cobrar o “Samora” ou “cem cem” ou se preferir o famoso “refresco”. Na última semana escalamos a província de Gaza, concretamente a cidade de Xai Xai, e foi triste e lamentável o que os nossos olhos viram e testemunharam.
Ao longo da viagem foi possível perceber que os automobilistas podem circular a uma velocidade excessiva, com viaturas em más condições mecânicas ou mesmo sem a respectiva documentação, bastando para o efeito o condutor ter “cem”. Nestas condições, ele passa normalmente como se tudo estivesse bem. E a nossa maior surpresa foi quando acompanhamos uma conversa de cobrador e motorista de onde ficamos a saber que os agentes da polícia fazem xitique diário resultante do dinheiro colectado na estrada.
De Maxixe à Xai-Xai, o motorista desembolsou pouco mais de mil meticais para pagar os agentes de trânsito pelo facto de em cada posto de fiscalização ter que pagar “cem”.
Este acto tornou-se normal na estrada, daí que surge o seguinte questionamento: quem paga salário à Polícia de Trânsito?
Será que a nossa Polícia está mesmo na rua para regular o trânsito ou para extorquir o cidadão que se faz à estrada com uma viatura? Será que o Ministério de Interior não paga devidamente o salário?
Como combater ou evitar acidentes com este tipo de comportamento?
Quase que diariamente acompanhamos através dos órgãos de comunicação social, incluindo este, notícias tristes de famílias que choram pela perda de um ente querido vítima de acidente de viação.
São acidentes que podiam ter sido evitados se os reguladores de trânsito tivessem cumprido com a sua função com brio e profissionalismo e sem se deixar corromper com os automobilistas que excederam a velocidade ou que não têm toda documentação exigida ou ainda que se fazem à estrada com veículos em péssimas condições mecânicas.
Na verdade, esta é uma prática que infelizmente não só acontece no ramo da Polícia de Trânsito, mas em quase todos os sectores de actividade quer público ou privado.
Alguma coisa deve ser feita para acabar com esta prática.
Para terminar vai o nosso reconhecimento para todos reguladores de trânsito que exercem a sua actividade de forma lícita e sem recorrer a esquemas de corrupção para ganhar dinheiro. Vocês, sim, merecem o nosso respeito! (Jornal Notícias, texto de Crespo Cuamba & Armindo Vilanculos).
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