Professores moçambicanos substituem livro escolar por “livros” de plástico reciclado. Está bom assim?

É do lixo comunitário que sai a sopa de letras e números

Um grupo de professores moçambicanos está a improvisar, provisoriamente, as aulas utilizando material plástico reciclado para leccionar. A ideia é fechar o fosso criado pela falta de livros didácticos de distribuição gratuita.

Uma frase “estatal” já com barbas, talvez até conhecida por crianças pré-escolares, é: “os livros não são suficientes”. Na verdade, parece que jamais o chegarão a sê-lo. Sempre faltou, e o hábito até pode tornar-se cultural.

Para contornar essa carência, agora motivada pela pandemia, professores moçambicanos, no centro do país, estão a utilizar material plástico reciclado como galões de água (bidões) e papelão. Estes materiais, agora moldados para servir, de facto, à pedagogia, são letras e sinais matemáticos.

“Isto está a facilitar a aprendizagem”, disse Américo Semente, professor na Escola Primária de Messica-sede, na Vila de Manica, província de Manica.

Essa engenharia é contemplada por alunos que, sem uma sala condigna, acompanham as lições assentes no chão, pedras ou, para quem tiver sorte, em troncos de árvores.

Entre brincadeiras com esse material e britas (pedrinhas acinzentadas ou acastanhadas muito utilizadas em obras de construção civil), Semente garante que conseguiu fazer crescer o número de alunos que sabem ler, escrever e contar.

Outros docentes seguiram o exemplo e passaram a produzir os seus próprios materiais didáticos desde 2020 com recurso a papelão, bidões e sacos de ráfia, oferecidos pela comunidade, em substituição do material didático tradicional, que além de ser caro, era de pouca duração, referem.

É do lixo comunitário que sai a sopa de letras e números, como contou a professora primária Celestina Daniel.

“Eu faço uma sopa de letras, da máquina e cursivas, e junto sílabas e números” numa árvore falante, fazendo com que a criança “aprenda” em vez de apenas memorizar “uma letra ou um número”, contou a professora primária.

Com os professores a produzirem o seu próprio material didático as aulas são menos afectadas pelos défices orçamentais crónicos no sector público, segundo Teresa Faife, Directora da Escola Primária de Messica.

“Antes era normal o professor entrar na sala de aula sem material didático [por falta de papel ou marcador]” e assim continua.

A docente estima que o número de alunos que passou a chegar ao fim do ensino primário com domínio completo da leitura e da escrita, disparou de 20% para 75% numa escola com 8.083 alunos.

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