Educação moçambicana e os seus velhos problemas

Educação moçambicana e os seus velhos problemas

A problemática da qualidade do ensino em Moçambique tem merecido atenção de várias, entidades governamentais, e não só, académicos, parceiros internacionais, e talvez até, dos professores. Muito se tem dito sobre a fraca qualidade de educação. Muitos têm dito que está cada vez pior, mas quando foi que esteve melhor?!

Nas reflexões acerca do assunto, muito se tem buscado pelos “culpados”, pois é, quem afinal de contas é responsável pela “perda” da qualidade do ensino no país?

As respostas têm sido várias, afinal cada um procura defender o seu lado, então atira-se a responsabilidade para os outros e assim se vai seguindo. Mas onde realmente reside o problema, será no sistema, no currículo, no professor, na interferência política na educação (corrupção), ou no aluno? A resposta pode ser muito simples, o responsável pela fraca qualidade de educação no país é o professor. Como muito se tem dito, “professores de hoje não são como os dantes, antigamente ensinava-se de verdade”. Mas será ele realmente culpado ou é apenas vítima das circunstâncias?

Ora vejamos, quando o país alcança a independência poucos estavam preparados para ministrarem aulas e fazer face à necessidade, como solução recorreu-se às pessoas que tivessem certificado de 4.ª classe elementar concluída, sem nenhuma preparação para ensinar, muito menos para ensinar disciplinas específicas. Então, começam os cursos intensivos de formação de professores, sem nenhuma especialidade para dar conta da necessidade de professores no país. Foram resolvendo os problemas de falta de professores nas escolas, mas e quanto à qualidade?

Na última década verificou-se que grande parte de professores com níveis básico e médio de formação buscaram, com recurso a bolsas de estudo oferecidas pelo Governo ou por conta própria, a formação superior especializada. Isso aumentou o número de professores especializados, no entanto, muitos, depois do ensino superior, são designados para disciplinas que sequer fizeram parte do currículo da sua formação. É assim que formados em Ensino de História se tornaram professores de Matemática, por exemplo, para resolver o problema da falta de professores de Matemática, mas e qualidade?

Pôde-se, também, perceber que o Governo passou a contratar professores, licenciados em diversas áreas, mas poucos foram enquadrados de acordo com a área de sua formação. Aumentou o número de professores especializados, mas será que isso aumentou a qualidade de ensino?

Igualmente, percebeu-se um movimento de filiação partidária por parte de professores para torná-los elegíveis à cargos de confiança e chefia para verem melhorados o seus míseros salários e, nisso, muitos professores emigraram para a Administração Estatal e os demais continuam servindo aos interesses dos partidos filiados chegando a priorizá-los em detrimento dos alunos, para isso muitos ausentam-se para atender as reuniões entre outras agendas do partido e no fim tem de ter um bom desempenho profissional reflectido no número de alunos aprovados na sua disciplina ou classe. Aumenta agora o número de aprovados, mas será que têm qualidade? De recordar que muitos reprovaram nos anos passados e só eram aprovados os alunos que reunissem os requisitos mínimos para a classe seguinte e desse modo não se chegava a 5.ª classe sem saber ler, escrever e/ou contar, não se pode dizer o mesmo nos dias actuais.

De igual modo que muitos alunos concluem classes sem requisitos, podem também estudantes concluírem cursos sem os requisitos fundamentais e depois tornarem professores com competências, habilidades e atitudes que deixam a desejar. Podemos culpá-los pela baixa qualidade do ensino no país?

Não seria, portanto, o professor apenas vítima das circunstâncias? Se quisermos culpar alguém pela qualidade de ensino no país, olhemos para o Sistema, não me refiro aos curricula, mas sim ao Sistema Nacional de Ensino, as políticas adoptadas a curto prazo no ímpeto de solucionar problemas iminentes sem se reflectir com profundidade no seu impacto no futuro.

Escrito por:  Vitorino Mutimucuio

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