A petrolífera francesa TotalEnergies deve, junto das Forças Armadas e Defesa de Moçambique, responsabilizar-se pelas 1.357 mortes resultantes do ataque terrorista ocorrido entre 24 de Março e 05 de Abril de 2021, na vila de Palma, na província de Cabo Delgado, sugere o escritor e jornalista, Alex Perry. Ele considera o pior ataque terrorista da história do petróleo e gás, em 20 anos, comparável apenas com o de 11 de Setembro de 2001, nos EUA.
“A razão pela qual a Total tem responsabilidades é porque quando os rebeldes atacaram a Total saiu, fecharam os portões. Os gerentes entraram nos helicópteros e foram-se embora. Eles abandonaram a todos, os contratados, os subcontratados e como resultado 1.357 pessoas morreram”, constatou.
O investigador norte-americano disse que a petrolífera francesa prometeu segurança às pessoas, mas furtou-se a responsabilidade na hora de agir.
“A Total tinha garantido a segurança, e quando aconteceram os ataques não cumpriu a promessa e abandou as pessoas. Deixou as pessoas morrerem”, referiu o investigador, citado esta segunda-feira pela RDP África.
O pior ataque da história do petróleo e gás
Disse a fonte que o jornalista norte-americano realizou um trabalho de investigação em Palma que revela, pela primeira vez, o balanço de civis assassinados durante o ataque, mais de dois anos depois. A incursão terrorista é por si classificada como uma das mais graves em várias décadas.
“Os números são bastante alarmantes. A minha equipa foi a 13.686 casas. Demorou cinco meses, num trabalho difícil, principalmente durante a época chuvosa. Eles descobriram 1.357 mortos ou desaparecidos. Presumimos que os desaparecidos estão mortos após dois anos, e outros 224 foram sequestrados. Isso é um total combinado de 1.581. Entres os mortos e desaparecidos têm 373 decapitados, 399 alvejados, seis que caracterizamos de diversos. Houve duas pessoas idosas queimadas vivas em sua casa, quatro pessoas morreram fugindo, 24 mortes ainda não sabemos. O ponto é que identificámos 95% de pessoas, temos 471 desaparecidos, isso entre a população civil de Palma. Entre as empresas que trabalham para a Total e seus trabalhadores dez foram decapitados numa decapitação em massa do lado de fora do Hotel Amarula e há pelo menos outros 45 que foram mortos. É importante saber que as mortes foram indiscriminadas. As idades variam entre os dois meses e os 105 anos de idade; 188 crianças foram mortas, classificadas como menores de 18 anos. Algumas foram decapitadas, alvejadas, afogadas, sequestradas, ou simplesmente estão desaparecidas. Portanto, é um massacre indiscriminado. Para colocar esses números em contexto, não há um conjunto de assassinatos que além do 11 de Setembro se aproxime deste crime. O 11 de Setembro foram perto de três mil pessoas, este [de Palma] é cerca de metade. Nada da Síria ou do Afeganistão ou Iraque nos últimos 20 anos chega a perto disso. Este é o segundo pior ataque terrorista que alguma vez aconteceu. É o pior desastre em 164 anos de história do petróleo e do gás”, detalhou o jornalista norte-americano.
É com base nestas constatações que Alex Perry responsabiliza as FADM e, em particular, a TotalEnergies por não terem evitado a morte de civis no ataque a Palma.
“Ninguém está a dizer que a Total matou pessoas. O Al Shabab matou pessoas. O ponto é que ninguém estaria a trabalhar em Afungi e Palma se a Total não tivesse garantido a sua segurança. A Total entrou neste projecto em 2019. Nessa altura a guerra civil já durava há dois anos, e então todos sabiam que é uma zona de guerra que estavam a entrar e isso vem com responsabilidades acentuadas. A Total contratou um grupo de advogados canadianos de direitos humanos para dizerem quais eram as suas responsabilidades. Os advogados disseram que se estendiam a sua equipa e aos seus subcontratados e, na verdade, a toda a vila de Palma e a qualquer pessoa a quem o projecto afectasse. É como ver 20 mil milhões de dólares irem para uma vila remota em Moçambique, basicamente adjacente à pequena vila de Palma e a Total ignorar isso. Eles contrataram 600 soldados do exército moçambicano para proteger o raio de 25 quilómetros em torno de Afungi, que inclui toda a vila de Palma. O líder da Total, Patrick Pouyanné, afirmou repetidamente que a segurança desta área era a sua principal prioridade […] mas deixou as pessoas morrerem”, destacou.
O escritor e jornalista que investigou as mortes em Palma confrontou a TotalEnergies com esses dados, e petrolífera refugiou-se no silêncio. A RDP África afirma ter contactado a delegação da multinacional em Moçambique que remeteu quaisquer esclarecimentos para a sede em Paris, França. A RDP diz igualmente que procura ouvir o Ministério da Defesa.
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