Uma a cada quatro pessoas paga suborno ou oferece sexo para obter terra em Moçambique

Oferecer dinheiro ou sexo são algumas das práticas de corrupção recorrentes nas zonas rurais de Moçambique para se obter um documento que dá Direito ao Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT), de acordo com o Centro de Integridade Pública (CIP).

O relatório do CIP sobre corrupção para aquisição de terras nas zonas rurais analisou três províncias (Nampula, Cabo Delgado e Manica) e revela que, além de subornos para a tramitação processual de DUAT, há a extorsão sexual de mulheres em troca de um título de DUAT, recusa dos direitos de uso e aproveitamento de terra a mulheres e jovens, exclusão das comunidades das negociações para a concessão/aquisição de terras entre investidores privados e autoridades locais.

Entre essas práticas assiste-se também a expropriação e indemnização injusta; sobrecfaturação das taxas para aquisição do DUAT; cobrança indevida ao utentes; a perda deliberada de processos/expedientes; manipulação dos trâmites legais para incitar os utentes a sugeriram suborno; recurso à informalidade na tramitação dos processos.

O CIP adianta que estas não são, de todo, as únicas formas de corrupção, pois “[a sua] natureza oculta”, manteve as outras práticas longe dos olhos da investigação.

O relatório constatou que quando se trata de negócios para a aquisição de terras destinadas a investimentos, destacando-se a agricultura e mineração, as áreas acima de 200 hectares “são mais propensas à corrupção” naquelas zonas.

“Os negócios para a aquisição/concessão de terra em larga-escala e os serviços de administração e gestão de terras as duas áreas mais propensas a riscos de corrupção no sector de terras no meio rural”, lê-se.

Entre os casos analisados pelo CIP constata-se a lesão a camponeses em mais de 10.000 hectares numa zona onde 600 famílias viram-se obrigadas a ceder suas terras para “grandes investimentos”.

Segundo a organização, é comum os camponeses receberem promessas de dinheiro e emprego, e não verem mais do que um horizonte vazio.

Por exemplo, a subsidiaria da Green Resources, a Lúrio Green Resources “prometeu empregos, construção de escolas, hospitais e outras infraestruturas para as comunidades” desde 2009, mas até hoje nada se viu.

Em conluio com estes tipos de promessas sem acção estão os administradores locais, revela o CIP, que até chegam a advertir as populações em termos intimidatórios.

“Água quando se entorna não se recupera. É melhor ficarem calados senão serão queimados”, sendo estas as palavras que podem ter sido proferidas pelo Administrador de Mecuburi (Nampula), durante uma reunião em 2019, segundo a população local citada pelo CIP.

De forma geral, contribuem para a ocorrência desses actos de corrupção no meio rural as multinacionais, empresas politicamente bem-posicionadas, as autoridades locais, investidores e técnicos do SPGC/SDAE.

O CIP recomenda que as comunidades sejam efectivamente consultadas e devidamente informadas sobre a natureza dos investimentos e as suas implicações e, ainda, que sejam devidamente compensadas em casos de expropriação, e eliminar espaços para subornos e pagamentos informais.

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