O Projecto de Restauração da Gorongosa recebeu o prestigiado Prémio Mundial para a Conservação da Biodiversidade da Fundação BBVA numa cerimónia de gala em Madrid, na Quarta-feira – um reconhecimento da recuperação ecológica bem-sucedida do Parque Nacional da Gorongosa nos últimos 20 anos. A cerimónia de entrega dos prémios celebrou “o valor da vida em todas as suas expressões e de todos os que se dedicam à sua defesa”, segundo Rafael Pardo, Director da Fundação BBVA.
A Fundação BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria) expressa a responsabilidade social corporativa do Grupo BBVA, uma das maiores instituições financeiras do mundo. Os Prémios de Conservação da Biodiversidade “prestam homenagem aos líderes que dão voz e defendem os interesses de todas as espécies com quem partilhamos o planeta. É pelos resultados extraordinários das suas acções em defesa da natureza que o projecto foi distinguido com o Prémio Mundial para a Conservação da Biodiversidade.”
A Dra. Susana Carvalho, Directora do Programa de Paleo-Primatologia da Gorongosa, juntou-se a vários colegas Moçambicanos ao aceitar o prémio em nome de toda a equipa. “O nosso trabalho é guiado por uma crença simples, mas poderosa: que as pessoas e a natureza podem prosperar juntas”, disse Carvalho no seu discurso. “Este prémio é uma verdadeira celebração dos nossos esforços colectivos. Isto recorda-nos a importância de trabalharmos em conjunto na conservação de maravilhas naturais como a Gorongosa e mostra que a natureza pode recuperar se tiver uma oportunidade.”
O Projecto de Restauração da Gorongosa é uma parceria de co-gestão entre o Governo de Moçambique e a Fundação Greg Carr, uma instituição filantrópica dos EUA. Nas últimas duas décadas, o projecto recebeu atenção global como “a maior restauração da vida selvagem da história” (National Geographic), bem como tem sido elogiado pelo seu modelo integrado de conservação e desenvolvimento humano.
O Parque Nacional da Gorongosa (400.000 hectares) foi, em tempos, considerado um dos maiores parques nacionais de África. Mas as populações de vida selvagem diminuíram durante 16 anos de conflito civil em Moçambique. Em 2004, o Projecto de Restauração da Gorongosa começou a reintroduzir a vida selvagem e a mobilizar discais de fauna bravia recém-formados para os proteger. Nas últimas duas décadas, os animais prosperaram e excedem agora os números anteriores à guerra.
“Quando começámos, há duas décadas, havia menos de 10 mil animais de grande porte no Parque. Existem agora mais de 100.000, pelo que aumentámos o seu número num factor de dez”, afirma o Director Científico do projecto, Marc Stalmans. “Nos casos mais graves, conseguimos excelentes resultados com a reintrodução de espécies, mas outros conseguiram recuperar por si próprios. Se dermos uma oportunidade à natureza, com uma boa proteção, ela poderá recuperar espetacularmente”, acrescentou.
Mas a restauração e conservação no Parque Nacional da Gorongosa são somente uma parte da abordagem do projecto. Greg Carr, um filantropo de direitos humanos inspirado por Nelson Mandela e pelo antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, contribuiu com apoio e atraiu numerosos outros doadores para fornecer programas extensivos de saúde, educação e desenvolvimento agrícola numa área de 600.000 hectares em torno do parque conhecida como “Zona de Desenvolvimento Sustentável”. A integração da conservação e do desenvolvimento humano tem sido fundamental para o sucesso do Projecto.
“Uma parte essencial do nosso trabalho é melhorar a vida das pessoas que vivem em redor do Parque”, explica Stalmans, “porque muitos dos problemas de exploração excessiva dos recursos naturais que ameaçam a biodiversidade se devem à pobreza e à falta de conhecimento. O nosso foco no desenvolvimento económico e na educação das comunidades locais é um factor chave para qualquer sucesso que tenhamos alcançado. Esperamos que o nosso modelo que integra a conservação e a sustentabilidade com o desenvolvimento socioeconómico da população possa servir de inspiração para outros países Africanos, como observou o júri do prémio.”
Paralelamente, o projecto tem procurado fundamentar as suas estratégias de conservação em ciência robusta, promovendo a investigação sobre a extraordinária biodiversidade da Gorongosa. O programa de investigação documentou a existência de quase 8.000 espécies nos limites do Parque, das quais cerca de 200 eram anteriormente desconhecidas pela ciência. “Graças a este rigoroso trabalho de investigação”, afirma Stalmans, “a Gorongosa é hoje um dos parques nacionais mais bem documentados em África em termos de biodiversidade”.
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