Paulina Chiziane pede descolonização e limpeza da língua portuguesa

Paulina Chiziane pede descolonização e limpeza da língua portuguesa

A escritora moçambicana Paulina Chiziane defende a necessidade da descolonização, tratamento e limpeza da língua portuguesa para que seja de todos que a falam.

Paulina Chiziane defendeu esta posição, em Lisboa, nesta sexta-feira, 5 de Maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, data que a escritora recebeu o Prémio Camões 2021, a maior distinção da literatura em língua portuguesa, uma iniciativa conjunta de Portugal e do Brasil que é atribuído anualmente desde 1988.

Segundo a escritora moçambicana, é na língua portuguesa que expressa os seus sentimentos e se afirma diante do mundo, “mas eu gostaria que a língua fosse de todos”.

“Fico assustada com algumas especificidades, como a palavra catinga, que vem como cheiro nauseabundo característico da raça negra”, exemplificou a escritora.

E prosseguiu questionando também, o termo “matriarcado”, que aparece definido no dicionário português como “costume tribal africano”, em contraposição com patriarcado, “tradição heróica dos patriarcas”.

“Em África temos matriarcado, sobretudo na região norte de Moçambique. É um costume tribal, deita fora, é coisa de africano. Mas patriarcado já tem valor. Que machismo é esse?”, questionou a escritora, quem confessou: ““Fico muito triste quando olho para aquilo. Será que tivemos tempo de olhar para estas questões?”.

Entretanto, quanto a atribuição do prémio Camões, Paulina Chiziane destacou a honra que sentia por estar entre personalidades da política, vinda de uma origem simples.

“Para quem vem do chão, estar aqui diante do Governo português, do Governo brasileiro, do corpo diplomático e de várias personalidades é algo que me comove profundamente”, afirmou Chiziane, citada pela VOA, e reconheceu ter caminhado “sem saber para onde ia, mas cheguei a algum lugar, que é este prémio”.

A escritora lembrou ter aprendido a escrever na areia e que recebeu o seu primeiro par de sapatos aos 10 anos de idade, num distante Moçambique quando visto do Ocidente.

“Somos usurpados, os africanos, por estes e por aqueles, porque os rastros da nossa história foram apagados através dos tempos. Estamos à deriva, não sabemos bem quem somos e, por isso, somos facilmente manipulados pelo mundo. O auto-conhecimento tem de ser a chave para o sucesso de quem quer que seja”, assinalou Chiziane, quem, nos agradecimentos, destacou os seus leitores, “em Moçambique e em todos os países que falam português”.

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