O julgamento de Jesus Cristo em Moçambique…

O julgamento de Jesus Cristo em Moçambique…

O escrivão, de salto alto de unhas nos dedos, bateria no teclado procurando a letra “J” para escrever o nome “Jesus” na acta. E o meritíssimo juiz vasculharia em todas as gavetas do alfabeto a palavra certa para ditar ao escrivão.

“Ele é de Nazaré. Nazaré com Z”. E o escrivão, que talvez tenha tido um furacão de lepra nas mãos em criança, pronunciaria “Nazaré” e de seguida metia-se na mata do teclado à caça das letras.

Em Moçambique, Jesus não teria sido zombado e surrado, pregado e fuzilado com insultos. Os longos silêncios divinos de Cristo, às perguntas do juíz, seriam colocados nas actas e sublinhados sob o olhar atento do ministério público.

 

Em Moçambique, Jesus não teria sido zombado e surrado, pregado e fuzilado com insultos.

O pai de Jesus Cristo, estaria ali sentado assistindo ao julgamento do filho, comendo de ansiedade suas unhas cheias de caspas de tanto raspar o planeta e talvez tiraria do bolso um lencinho qualquer que não teve coragem de dar a Adão para esconder a sua vergonha; limpar-se-ia o suor e oraria pelo seu filho.

Cristo só teria de suportar o juiz colocando nomes importantes na borda do processo e outros no centro, como uma criança quando coloca na margem do prato espinhas de peixe. Talvez por um momento teria vontade de transformar as garrafinhas de água em galões de vinho e assim pôr a tenda toda em festa tal como fizeram os outros com o dinheiro do povo.

 

Cristo só teria de suportar o juiz colocando nomes importantes na borda do processo e outros no centro

Coitado! Cristo teria de suportar os malcriados da tenda que sem respeitar a lei metem-se debaixo da bata do juízo e desfloram os seus tomates. Cristo no tribunal, metido em um manto amarelo, consultaria os anexos do ministério público, abanaria a cabeça sem se importar com a queda da coroa de espinhos que não teria. Não teria de suportar Pilatos lavando as mãos, apenas ouvir o juiz brincando com o objecto do processo; claro, todo objecto foi feito para brincadeira e o juiz também tem o direito de brincar.

Em Moçambique Cristo não teria tido uma lenha em forma de cruz, mas uma cama luxuosa na cadeia de Língamo para se pregar com roncos e ressuscitar todos dias para a tenda. Claro que Cristo revoltar-se-ia, por procurar o Barrabás na tenda e não o encontrar, por ver o ministério público entulhado de processos sem provas contra o Barrabás.

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