Mondlane, os camaradas roeram o teu plano arquitectónico…

Mondlane, os camaradas roeram o teu plano arquitectónico…

Se o livro não tivesse soltado um dos capítulos, em forma de bomba, estarias, agora, connosco. O meu professor, da quarta-classe, ensinou-me depois de um banquete de reguadas que morreste no escritório; repetia isso, enquanto as mãos, fechadas em punhos, faziam o sangue ferver de dor. A história era algo que fora ficar na cabeça, devia ser recebida pelas mãos como algo tocável. A história nos era introduzida, nas mãos, pelas reguadas tal como os sacerdotes enfiam pãezinhos nas bocas dos crentes aos Domingos.

Morreste, mas antes de tudo uniste os três movimentos (como? Não sei) num só: FRELIMO. Mas, quando colaste estes três movimentos, no teu plano arquitectónico, esqueceste-te de rebocá-los e, por isso, já há rachas. A tua FRELIMO, Mondlane, já não une, espalha. Soube que, no teu tempo, até se fuzilavam; mas, agora, Mondlane, a arma que se usa é mais perigosa, pois mata-nos sem nos tirar da terra: Pobreza. Somos arrumados em gráficos bem obesos, pela mão da estatística, e chamados de absolutamente pobres.

E talvez teremos de ficar mais anos para repor o país, pois andamos endividados, com armas activando a morte, no Norte, e com políticos enchendo nossas cadeias.

Escrevo-te, Mondlane, neste Fevereiro de 2022. E talvez teremos de ficar mais anos para repor o país, pois andamos endividados, com armas activando a morte, no Norte, e com políticos enchendo nossas cadeias. Já não se estende a mão ao estrangeiro para alimentar o povo; é no próprio povo que se tira o alimento. Diga-me algo com toda sinceridade: “tu foste académico e deves saber responder-me: qual é o órgão que deve falar mais alto no académico? O estômago ou o cérebro?”.

Mondlane, os camaradas roeram o teu plano arquitectónico nacional. Chamaram os chineses para nos ensinarem as artes marciais do desenvolvimento, e em troca enchemos seus contentores de madeira e fartam-se de comer, em pauzinhos, o nosso camarão em barcos cheios. Temos petróleo, carvão e gás. Muitos recursos naturais, mas nós os pobres temos receio que isso nos exploda na cara tal como aconteceu com o livro que te arrumou na morte.

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