“Ensino em Moçambique sofreu danos que podem ser irreversíveis”

A qualidade do ensino em Moçambique sofreu danos devido ao covid-19 que podem ser irreversíveis, alertam o Instituto Nacional de Estatística (INE) e o Banco Mundial, após um inquérito ao impacto da pandemia nas famílias urbanas.

“Em termos gerais”, os resultados do inquérito “confirmam a preocupação de que a qualidade da educação pode ter sido muito afectada durante a pandemia”, no ano 2020, “mesmo para aqueles que puderam participar nalguma actividade de aprendizagem”, lê-se no relatório do Inquérito Sobre o Impacto do Covid-19 nos Agregados Familiares Urbanos em Moçambique.

“Esta aprendizagem perdida pode ser difícil ou mesmo impossível de recuperar para algumas crianças depois da pandemia ou após a retoma das aulas presenciais para todas as classes”, já este ano, acrescenta.

Uma situação agravada se se considerar que os estudantes que não estavam em ano de exames “passaram automaticamente para as classes seguintes”, apesar de em 2020 praticamente não terem frequentado aulas.

Só que, “com as escolas a sofrerem de um alto rácio aluno-professor, especialmente nas primeiras classes, a alternativa de reprovar alunos pode também resultar em turmas ainda mais lotadas, colocando assim um difícil dilema” ao sistema educativo, nota o relatório.

As respostas das famílias mostram “disparidades regionais significativas”.

Na primeira ronda do inquérito, em Junho de 2020, apenas 50% a 59% dos agregados familiares das urbes de Cabo Delgado e Nampula (a norte do país) declararam que crianças e jovens se envolveram em actividades de aprendizagem à distância.

Nas províncias de Inhambane, Maputo, Cidade de Maputo, Niassa, Tete, Sofala e Manica, esse valor foi superior a 90%.

Houve ainda “um decréscimo evidente” na participação em actividades de aprendizagem alternativas à medida que os meses foram passando: era superior a 80% em Junho e pouco superior a 70% no final de Novembro.

“A maioria dos agregados familiares declararem que a qualidade da educação durante a pandemia era ‘má’ ou ‘muito má’, perdendo o entusiasmo pelas actividades de aprendizagem à distância”, lê-se no documento.

O inquérito foi baseado em entrevistas telefónicas a representantes de 1 185 agregados familiares (5 938 indivíduos) entre Junho e novembro de 2020, representativos das áreas urbanas das 11 províncias do país.

Nas fases seguintes de recolha de dados, a decorrer desde Abril, o INE está a expandir a amostra de modo a incluir as áreas rurais.

Os autores do relatório admitem que o impacto seja “particularmente grave nas zonas rurais e menos ligadas” à Internet, rádio e televisão, “com menos oportunidades de se adaptarem às possibilidades de ensino à distância”.

São agregados familiares vulneráveis e pobres, onde, mesmo em circunstâncias normais, as crianças abandonam a escola após o quinto ano de escolaridade.

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