A recuperação de Mocímboa da Praia, distrito de Cabo Delgado, há mais de um ano por jihadistas moçambicanos, foi celebrada por deslocados em vários campos de abrigo em Pemba e arredores, que continuam expectantes no anúncio do regresso à vila natal.
A recuperação da vila, com um porto e um aeroporto estratégicos para a região norte de Cabo Delgado, é vista pelos deslocados como “uma conquista visível”, daí pretenderem uma “paz definitiva” nas áreas fustigadas por ataques do grupo ligado ao Estado Islâmico.
“Queremos agradecer esta recuperação” de Mocímboa da Praia, disse à VOA Valério Amade, um deslocado de Mocímboa da Praia, que se encontra num abrigo em Metuge.
Regresso
“Queremos a paz definitiva. Não pode haver mais ameaça. A população deve viver livremente como vivia antes”, disse Amade.
As restrições impostas pelas medidas contra o coronavírus, prosseguiu Amade, impediram a celebração colectiva da recaptura da vila, a mais urbanizada no norte de Cabo Delgado.
Um outro deslocado, Sulemane Adir, disse que a recuperação de Mocímboa da Praia, local considerado bastião dos jihadistas moçambicanos, “vai acalmar” as investidas do grupo e “permitir às pessoas voltarem para casa”.
“Nós já rezávamos por isso: regressar a casa. Casa é casa, mesmo ficar sem fazer nada, é melhor que ficar em sua casa que na condição de deslocado em terreno alheio” disse à VOA Sulemane Adir, adiantando que “os deslocados estão em festa” em Montepuez.
Outros deslocados em Pemba, a capital, manifestaram também a sua satisfação, aguardando com expectativa a reabertura da única estrada alcatroada, que liga Pemba a Mocímboa da Praia, além da ordem que lhes permita o regresso a casa.
Ameaças e diálogo
Entretanto, os entrevistados alertaram para o risco de ameaça da população por parte das Forças de Defesa e Segurança (FSD), que provocou a maior vaga de deslocados e, pediu às autoridades a monitorar o processo de regresso da população para evitar a infiltração de rebeldes.
“Queremos apelar a nossa força (exército moçambicano), caso a gente volte para Mocímboa da Praia, para que não haja ameaças,” disse à VOA Valério Amade. “Se voltarem a ameaçar a população da forma como foi no início (da vaga de deslocados), automaticamente em Mocímboa ninguém vai viver, as pessoas vão ter medo; não medo dos insurgentes, mas medo da força”.
Enquanto é celebrada a victória da recuperação de Mocímboa da Praia há personalidades, incluindo o antigo presidente moçambicano, Joaquim Chissano, que sugerem o diálogo com os jihadistas como forma de travar o conflito.
O antigo presidente lembra que “certos tipos de terrorismo”, acabaram através de negociações, e pede que se estudem as causas da violência armada em Cabo Delgado para resolver a crise militar e social na província.