Combustíveis em Moçambique: a dívida do Governo; o preço e o stock… Vêm tempos difíceis…

O Governo tem uma dívida com o grupo de gasolineiras em Moçambique que já não vê alternativas senão alinhavar os preços praticados no mercado interno (os mais baixos da SADC) aos preços reais dos mercados externos. Além disso, essas empresas temem a paralisação das operações dentro de poucas semanas se não for encontrada uma solução urgente porque o stock existente está a minguar dia após dia e apenas aguenta até o próximo mês, nada mais.

O Governo deve cerca de 120 milhões de dólares às gasolineiras que operam em Moçambique referentes aos subsídios de importação de combustíveis (gasóleo, gasolina e petróleo), revelou, esta quinta-feira, em Maputo, a Associação Moçambicana de Empresas Petrolíferas (AMEPETROL).

“Essa dívida não é recente e agrava-se com a situação actual internacional”, disse o Director-Geral da Puma Energy, Danilo Neves Correia.

Falando aos jornalistas, o Presidente da agremiação e Presidente do Conselho de Administração da Mitra Energy, Michel Ussene, disse que esta situação congelou a capacidade de as petrolíferas tornarem-se competitivas para a aquisição do crude refinado.

“Esta situação de dívida faz com que as empresas estejam negativas nos seus fluxos de caixa e tenham dificuldade para voltar a comprar stock e manter os seus níveis aceitáveis” disse Ussene.

Esta perturbação ao mercado agravou-se neste mês de Abril “já que a diferença dos preços de combustíveis comprados e chegados ao país, que tínhamos até o mês passado, acentuou-se, criando um fosso ainda maior na tesouraria das empresas distribuidora de combustível”, explicou o responsável das distribuidoras de combustível.

Na perspectiva da AMEPETROL, a continuidade de abastecimento ao mercado moçambicano está dependente da resolução daqueles dois factores, a dívida e o incremento dessa mesma dívida.

Moçambique tem o preço mais baixo do mercado

O Secretário-geral da AMEPETROL, Ricardo Cumbe, demonstrou, na ocasião, que os preços dos combustíveis praticados no mercado moçambicano estão desajustados aos dos mercados internacionais.

Embora o último reajuste de preços tenha ocorrido há pouco mais de um mês, não terá sido suficiente, ou mesmo realista, se comparado ao mercado internacional.

“Se hoje devêssemos olhar para a estrutura real de preços do produto que chega ao país, no gasóleo deveríamos estar a pagar 26,90 meticais a mais e 19,00 meticais a mais na gasolina”, disse.

Actualmente, o gasóleo deveria passar dos 70,97 meticais para 97,97 meticais, e a gasolina dos 77,39 meticais para 96,39 meticais, de acordo com a AMEPETROL.

Comparando os preços do gasóleo praticados entre Moçambique e Zimbabué, a agremiação disse que, para uma mesma distância, o custo é de 32.17 meticais a menos no território nacional. E, entre Moçambique e a África do Sul, a diferença é de 19,89 meticais a menos.

E, numa comparação entre seis países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), nomeadamente, Moçambique, Tanzânia, Eswatini, África do Sul, Zâmbia e Zimbabué, incluindo o Quénia, Moçambique é o país com o produto mais barato nos postos de abastecimento.

“E isto quer dizer que o preço em Moçambique está desajustado do preço praticado mercado internacional e esta situação impede a capacidade de continuar a importar”, de acordo com Michel Ussene, Presidente da AMEPETROL.

Reservas de combustíveis em Moçambique secam no próximo mês

Os factores arrolados acima concorrem para a ocorrência de “seca” dos tanques em Moçambique. E, como explicou a associação, a actual conjuntura socio-económica está a concentrar vários países do mundo para comparar combustíveis nas mesmas refinarias e Moçambique, actualmente, não tem preços competitivos, ou seja, poder aquisitivo aliciante.

“Os que podem pagar mais estão a oferecer mais pelo produto e [num futuro breve] haverá fornecedores que não vão estar interessados em fornecer o produto para Moçambique, porque não estará disponível para pagar os preços que os outros mercados podem pagar”, elucidou Danilo Correia.

“Se a estrutura de preço em Moçambique não for revista positivamente, as empresas importadoras de combustível não terão a capacidade de voltar a aumentar, incrementar e manter os seus níveis de stock. Corremos o risco de brevemente deixar de ter Stock”, disse o representante máximo da organização.

E, segundo a AMEPETROL, este alerta ao Governo é para a correção dessa situação visando a continuidade do movimento no tecido social e evitar que os sistemas de comunicação rodoviários, aéreos e marítimos fiquem estagnados “como vimos acontecer em outros países vizinhos”.

Algumas gasolineiras em Moçambique já estão sem stock e outras só poderão fornecer combustível para um horizonte temporal de menos de 30 dias.

“Temos cerca de um mês para podermos resolver esta situação de preços”, avisou Ussene.

Moçambique só tem agora combustível para 21 dias no gasóleo, 29 dias para a gasolina, e 15 dias para o petróleo.

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