Banco Mundial defende transparência nos países pobres e alerta para risco de dívidas não declaradas

Banco Mundial defende transparência nos países pobres e alerta para risco de dívidas não declaradas

O director de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Banco Mundial alertou para os perigos das dívidas não reportadas, usando o exemplo de Moçambique, e defendeu que é preciso mais transparência, principalmente nos países de baixo rendimento.

Num artigo publicado na revista económica Barron’s e também no site do Banco Mundial, Marcello Estevão lembra as consequências das dívidas não declaradas em Moçambique, escrevendo que “em 2016 a descoberta de dois grandes empréstimos não divulgados lançou uma crise económica, congelou o apoio dos doadores ao país e o Governo foi forçado a fazer profundos cortes na despesa pública”.

A Moçambique juntam-se também dificuldades sobre a dívida na Zâmbia e no Chade, escreve o economista brasileiro, vincando que “estes episódios expõem os perigos que os credores e os devedores enfrentam com dívidas não divulgadas, e levaram a apelos urgentes a mais transparência sobre as dívidas, que até agora não foram ouvidos”.

No texto, Marcello Estêvão, citado pela Lusa, elenca três factos importantes: “primeiro, 40% dos países de baixo rendimento não publicaram quaisquer dados sobre a dívida soberana há mais de dois anos, segundo, existem enormes discrepâncias entre as estimativas públicas sobre a dívida, com os dados publicados pelas autoridades nacionais e os dados dos bancos multilaterais de desenvolvimento a mostrarem diferenças de 30% do PIB, nalguns casos, e em terceiro, 15 países de baixo rendimento têm dívida garantida por recursos naturais, mas nenhum dá detalhes sobre estes acordos”.

Esta incerteza, defende o economista, “não deve ser aceitável no ambiente actual, em que mais de metade desses países já estão em dificuldades com a dívida (“debt distress”, no original em inglês) ou em elevado risco de chegarem a esse nível”.

A transparência da dívida, no entanto, não é o único problema, diz o economista, apontando três áreas preocupantes: dívida interna, dívida externa fora dos mercados internacionais e dívida que usa os recursos naturais como garantia colateral. Defendendo que a publicação da dívida não é responsabilidade apenas dos governos, mas também dos credores e dos bancos comerciais, Marcello Estevão defende que as instituições financeiras internacionais também são importantes e preconizam uma harmonização e consolidação de todos os dados sobre a dívida para permitir um conhecimento maior e um grau de comparabilidade aceitável.

“Em época da Covid-19 não podemos dar-nos ao luxo de ser complacentes sobre os desafios da transparência da dívida nos países em desenvolvimento, o tempo para agir é agora”, conclui.

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