As contas dos chapas

As contas dos chapas

O preço do chapa vai mesmo subir nas zonas metropolitanas das cidades de Maputo e Matola, avança o presidente da Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO), Castigo Nhamane, em entrevista ao MZNews.

Decisão tomada! Até aos primeiros dias do próximo mês, as cidades de Maputo e Matola terão um reajuste do preço dos chapas, refere o presidente da Federação Moçambicana das Associações dos Transportadores Rodoviários (FEMATRO), Castigo Nhamane, em entrevista ao MZNews.  O reajuste é justificado pelo nível elevado dos custos de operação. “É preciso perceber que esta tarifa actual, vigora há mais de cinco anos. Nesse intervalo houve várias subidas de peças, sendo que a última (a de combustível) veio agravar a situação financeira dos operadores”, explica. Nhamane não avançou números, mas garante que a proposta do reajuste já se encontra no Conselho da Assembleia Municipal, devendo ser aprovado dentro de dias. 

Um negócio… fracassado

Ao nível da região austral sem margem de erro, Moçambique é um dos piores países no que diz respeito ao sistema de transportes de passageiros. Muitos chapas funcionam num estado avançado de degradação e não oferecem as mínimas condições de segurança. É também um sistema de transporte que não consegue satisfazer a demanda. Há largos anos que este cenário prevalece e tudo indica que há poucas soluções para a resolução do problema.

Castigo Nhamane, reconhece o problema, mas avança que “essas precaridades estão associadas à questão da tarifa, pois o operador não tem outra forma de melhorar, aumentar e renovar a frota se não ganhar dinheiro suficiente para isso”, justifica.

Ditas em outras palavras, o presidente da FEMATRO diz que a precaridade do sistema de transporte deve-se ao “simbólico” valor cobrado. “Eu vou dar um exemplo, temos alguns moçambicanos a fazer o transporte de mercadorias que têm as suas empresas organizadas, com acima de 100 camiões, isso por que o negócio é rentável”.

O que segundo ele já não acontece com o sistema de transporte urbano de passageiros. “No transporte urbano de passageiros não temos isso.  Cobra-se uma tarifa social. Não temos nenhum transportador, empresário ao nível nacional, com 10, 20 autocarros”, sustenta. Recomentando, no entanto, que “é preciso que se encontre um mecanismo que permita com que o transporte de passageiros urbano dê dinheiro ′de facto′ para que o empresário possa investir, caso não, as condições serão sempre essas”, antevê.

No transporte urbano de passageiros não temos isso.  Cobra-se uma tarifa social. Não temos nenhum transportador, empresário ao nível nacional, com 10, 20 autocarros”

Nhamane chegou mesmo a estabelecer uma analogia com o que se passa na vizinha África do Sul para fundamentar a insustentabilidade do negócio de chapas cá em Moçambique. “Veja o que acontece na África do Sul. De uma paragem para a outra na África do Sul são 10 rands (40 meticais), o preço mais baixo, mas nós aqui ainda cobramos 10 meticais”, refere. Nhamane apela à intervenção directa do governo para rentabilizar o negócio dos chapas. “É preciso um exercício muito elevado que tem de ser levado a cabo pelo governo em coordenação com o sector privado até que se encontre o meio termo para rentabilizar este sector”.

O presidente da FEMATRO vai mais longe e diz que não há nenhum banco comercial que financie o negócio de chapas porque “o ensaio que você apresenta ao banco não garante o retorno do capital”.

Os desafios permanentes dos chapas

Parece que os problemas dos chapas no país são intermináveis. E cada ano que passa tendem a avolumar-se. O grito de socorro sobre o mesmo assunto vem de todos os lados. E nem mesmo o governo consegue ter solução para o mesmo. “Sabe, isso parece que tende a piorar cada ano que passa. A forma como a “malta” é transportada chega a ser desumana”, desabafa, uma usuária de chapas, que todos os dias se vê obrigada a madrugar para conseguir pegar chapa e chegar ao seu local de trabalho dentro da hora prevista.

A forma como a “malta” é transportada chega a ser desumana”, desabafa, uma usuária de chapas”

Sob a gestão da FEMATRO circulam nas cidades de Maputo e Matola cerca de 300 autocarros e acima de 2000 mil mine bus. “Esses meios todos não chegam para aliviar a crise dos transportes”, confessa Nhamane. Mas as preocupações dos transportadores não terminam por aí. Há também questões das vias de acesso e estradas, que grosso modo, estão esburacadas e em péssimas condições. “Com os autocarros que temos hoje, se tivéssemos vias dedicadas ao transporte de passageiros, o resultado seria outro”, refere acrescentando que “um autocarro da cidade de Maputo para a baixa, em condições normais devia levar 45 minutos, mas na hora da ponta, hoje leva 3 horas por causa do congestionamento”. “Esse é o problema que cabe ao governo resolver”, concluo.

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