Artigo de Kenneth Engblom – Vice-presidente, Wärtsilä Energy, Europa e África
O futuro energético de África numa encruzilhada
Quando o assunto é o futuro energético em África, as decisões enfrentadas hoje pelos líderes do continente são de importância histórica, nem mais nem menos. Mais que tudo, os sistemas energéticos constituem o tecido da actividade comercial e da sociedade. Países em toda África querem levar a cabo o seu objectivo de construir enormes quantidades de nova capacidade de geração, a fim de antecipar os vastos aumentos na procura de energia e de colocar o continente no caminho certo rumo ao crescimento e ao desenvolvimento que ele merece. Com o seu imenso potencial energético e a sua baixa taxa de electrificação, Moçambique encontra-se na linha de frente desta tendência continental.
Os responsáveis pelo planeamento energético sabem aonde precisam de ir. A grande pergunta é: “Como?”. Mais especificamente: qual é a matriz energética mais económica que pode ser construída para garantir toda a nova capacidade de electricidade necessária? Energia eólica, energia solar, turbinas a gás, carvão, motores a gás… Há muitas opções disponíveis, mas cada país tem uma única solução ideal.
Há mais de uma década, engenheiros e analistas da Wärtsilä, de nível internacional, vêm fazendo uso da sua rica experiência no sector energético africano para responder a essas perguntas, país por país. Mobilizámos técnicas de modelização de ponta e tecnologicamente neutras e levámos em consideração todas as restrições técnicas locais e todas as tecnologias, bem como os recursos naturais. Foram desenvolvidos e comparados vários cenários de matriz energética. Executámos os modelos de maneira rigorosa e obtivemos números eloquentes. Em Moçambique, no Senegal ou na Nigéria, entre muitos outros países, os nossos estudos revelam diferenças de custos consideráveis entre as várias estratégias energéticas possíveis.
Estão em jogo milhares de milhões de dólares
No que respeita à escolha das tecnologias energéticas, é primordial manter-se uma visão aberta, desprovida de quaisquer preconceitos. As tecnologias que podem ser adequadas para a Europa, tendo em conta a infra-estrutura existente, a densidade demográfica ou os recursos naturais neste continente, podem não servir para outras regiões do mundo. Cada país ou região deve encontrar a melhor forma de construir o seu próprio sistema energético. Muitos países africanos, no entanto, têm um importante ponto em comum: talvez mais do que em qualquer outro lugar, os modelos apontam que a rota para se construir o melhor sistema energético em matéria de custos passa pela maximização do uso das energias renováveis. O nosso mais recente estudo: “Planning Mozambique’s optimal power system expansion” (“Planear uma expansão máxima do sistema energética de Moçambique”) mostra que Moçambique não é excepção, pois uma modelização aprofundada revela uma forte correlação inversa entre a quantidade da capacidade instalada de energias renováveis e o custo total do sistema.
Deve-se estabelecer um facto de uma vez por todas. O custo dos equipamentos de energias renováveis vem caindo muito rapidamente nos últimos anos, e quando esses equipamentos utilizam os recursos solares e eólicos maciços de África, o custo que se obtém por KW/h produzido vence facilmente aquele de quaisquer outras tecnologias de eletricidade. Acrescentando-se a isto o facto de que a maioria das redes eléctricas do continente é relativamente subdesenvolvida, é mais do que óbvio que se devem preferir as energias renováveis aos sistemas tradicionais de geração de energia, como as centrais eléctricas a carvão ou a gás.
Ainda que, em todo o continente, certos governos tenham estabelecido metas relativamente ambiciosas em matéria de energias renováveis, nem sempre é possível chegar muito longe. Ao contrário daquilo que possam pensar certos líderes industriais e políticos, maximizar a quantidade de energia renovável que pode ser desenvolvida para o sistema é, de longe, a estratégia mais económica disponível, e garante ao mesmo tempo uma rede estável e fiável.
Em África, as energias renováveis hão de tornar-se a nova fonte de energia de base. De facto, as energias renováveis são intermitentes, mas a sua combinação com capacidades de geração de energia mais flexíveis garantirá a estabilidade da rede, além de proporcionar uma economia de milhares de milhões de dólares.
A intermitência das energias renováveis: um problema que tem solução
Seria equivocado considerar a intermitência das energias renováveis como um obstáculo intransponível. Tal não é o caso, visto que essas energias são associadas a modos altamente flexíveis de geração de electricidade, como as centrais eléctricas a gás.
Para se manter o sistema equilibrado, deve haver disponível uma fonte de energia de segurança e para os picos, para que a produção seja aumentada a uma taxa igual àquela das flutuações das produções eólica e solar, mas também para acompanhar às variações na procura de energia ao longo do dia. Os sistemas devem poder atender a imensas variações diárias em segundos ou minutos.
As centrais eléctricas a gás são a única fonte de geração de apoio destinadas a fazerem só isto. Elas manterão o sistema em segurança, permitindo ao mesmo tempo que a rede integre enormes quantidades de energias renováveis baratas. Para Moçambique, os estudos revelam uma diferença de US$ 84 milhões no custo total do sistema ao longo dos próximos 10 anos, entre um sistema que incorpore grandes volumes de energias renováveis aliados a geradores flexíveis a gás, e um sistema baseado na geração térmica inflexível com uma capacidade mínima de energias renováveis. Daqui até 2050, a economia em matéria de custos pode chegar às centenas de milhões de dólares.
Energias renováveis e gás flexível: os dois pilares de uma boa estratégia energética
As energias renováveis e o gás flexível constituem os dois pilares de uma boa estratégia energética para África. Estudos semelhantes realizados em outros países africanos indicam que esta estratégia de matriz energética produzirá uma eficácia energética no valor de milhares de milhões de dólares, em todo o continente, nas próximas décadas.
Objectivos altamente ambiciosos em matéria de energias renováveis em toda África são não só alcançáveis, como também constituem a estratégia mais sólida e económica para a electrificação bem-sucedida do continente. A tomada de decisões inteligentes em matéria de estratégia conduzirá a sistemas de electricidade mais resilientes e oferecerá uma eficácia amplamente superior dos sistemas como um todo.
Sobre Wärtsilä
A Wärtsilä é líder global em tecnologias inteligentes e soluções completas de ciclo de vida para os mercados marítimo e de energia. A empresa já entregou 76 GW de capacidade de centrais de energia em 180 países ao redor do mundo. Em Moçambique, a Wärtsilä projetou, construiu e atualmente opera a central elétrica CTRG de 174 MW, alimentada por motor a gás a qual é parcialmente propriedade da EdM.
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