Eles são moçambicanos, vivenciaram problemas moçambicanos, sonharam e criaram soluções para resolvê-los e foram honrados pelo altruísmo. De Moçambique para o mundo, receberam distinções da Rainha da Inglaterra, Elizabeth II, houve até parcerias com Elon Musk e registos de patentes nos Estados Unidos da América. Perante adversidades, mantiveram-se inabaláveis e inspiraram pessoas. Eles são a prova de que cada moçambicano conta, na devida importância de um gesto inclusivo e resiliente.
Os seus propósitos estão bem determinados, e, em dada medida, alinhados com alguns Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). De Maputo a Cabo Delgado, eles querem continuar a impactar, positivamente, a vida de um maior número de moçambicanos.
“A nossa estratégia é não deixar ninguém para trás”
Dayn Amade implementou a iniciativa Tablet Comunitário em 2015, na perspectiva de inclusão digital, a fim de proporcionar a realidade tecnológica das metrópoles às comunidades mais recônditas de Moçambique, “lá onde falta quase tudo”. Queria que, através de toques numa tela, as pessoas pudessem ter acessos a serviços sociais básicos como educação e ser sensibilizadas num sentido mais holístico da vida e sobre o futuro. O projecto avançou e já abrangeu mais de dois milhões de pessoas em todo o país.
“Eu notei que nós, nas zonas urbanas, já vivíamos na era digital, e as comunidades recônditas ainda estão completamente fora da era digital. Comecei a perceber a diferença que faz, mesmo até para questões de aprendizado. Questionei-me sobre como quem não tem acesso às tecnologias digitais faz para ter acesso a tutoriais de educação, em vez de ler manuais, quase inexistentes. Mas também, como empoderar as comunidades de forma rápida para resolver adversidades prementes e melhorar a qualidade de vida”, contou Amade, sobre o princípio ideológico da iniciativa.
“A luz divina” lhe surgiu num misto de percepções, incluindo a análise das variadas formas de comunicação nas comunidades, como a projecção de filmes nas noites, espectáculos musicais e palestras.
“Entretanto, vi que os meus filhos, e outras crianças na mesma faixa etária, gostavam e manuseavam bem os tablets. Então veio-me à cabeça a ideia de criar um Tablet Comunitário”, referiu.
Conforme descreve Amade, trata-se de uma estrutura com Monitores Robustos Gigante Digital através da qual se pode assistir a vídeos, e, no seu lado oposto, estão instaladas cabines interactivas onde as pessoas podem interagir como um tablet ‘comum’ multiuso, que permite a interação táctil e áudio visual.
Tablet Comunitário em uso numa comunidade recôndita em Moçambique
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O Tablet Comunitário veio romper com os paradigmas dos modelos de inclusão digital pré-estabelecidos e pouco eficientes. Para Dayn Amade, “é pouco sustentável” oferecer dispositivos de tecnologia a quem lhe falta respectiva instrução, vive em zonas sem electrificação, aliado a impossibilidade de garantir acompanhamento e monitoria dos benefícios almejados.
A sua iniciativa, que, entretanto, desenhou e implementou com um grupo de dez colaboradores efectivos, foi bem recebida nas comunidades por onde passou, do Rovuma ao Maputo.
A Evolução foi enorme nestes últimos anos, desde o primeiro modelo do dispositivo que compreendia uma estrutura e quatro cabines individuais, ligada a um computador e conectada a um gerador. Hoje o Tablet Comunitário é produzido a partir de material a base plástico reciclado; além de painéis solares, funciona com baterias reutilizáveis; passou a estar equipado com um monitor externo gigante com dupla função: vídeos e videoconferências; as telas nas cabines individuais deixaram de ser somente táctil e exibir vídeos e passaram a ser multiuso (áudio visual), provendo interação virtual em tempo real com conteúdos bilingues, em língua local e/ou em português; e mecanismos integrados para pessoas iletradas e com deficiência, físico-motoras ou mesmo em cadeira de rodas.
O Tablet Comunitário é, na verdade, um recurso que pode ser utilizado como modelo universal de infraestrutura pública digital para zonas remotas, visando facilitar a vida das comunidades em incomensuráveis aspectos. Além das vantagens já indicadas, poderá servir para realizar consultas médicas e receber diagnóstico –agora permite medir a pressão arterial, batimentos cardíacos, entre outros –, como também para operacionalizar transacções financeiras – sendo que já divulga mensagens do Banco de Moçambique sobre literacia financeira, em campanhas direccionadas.
Aliás, o Financial Sector Deepenig Moçambique (FSDMoç), na sua publicação anual de Dezembro de 2021, refere que “a inclusão financeira é a chave para reduzir a pobreza, aumentando o bem-estar individual e melhorando o potencial económico dos indivíduos.”
O mesmo documento revela uma tendência crescente do uso de soluções financeiras através de dispositivos tecnológicos. Por exemplo, em zonas rurais, a percentagem de pessoas que aderiu a serviços financeiros formais não bancários aumentou de três porcento, em 2014, para 16%, em 2019. “Esta mudança foi largamente impulsionada pelos serviços financeiros através do telemóvel.”
O FSDMoç entende que a tecnologia e as infra-estruturas são fundamentais para que a tecnologia digital funcione, sendo necessária uma cobertura robusta de redes móveis, a existência de fontes de electricidade para carregar os telemóveis e um sistema fiável de transacções financeiras.
As campanhas de sensibilização sobre educação financeira através do Tablet Comunitário incentivam as pessoas a aderir serviços financeiros bancários, carteiras móveis e realizar operações financeiras com mobiles. Contudo, o projecto é ainda mais ambicioso.
“Através do Tablet Comunitário nós queremos fazer a bancarização rural, junto dos actores ligados à banca. Temos o projecto já desenhado. Seremos agentes de carteira móvel num formato digital e virtual”, avançou, notando que este é um modelo capaz de garantir “a inclusão financeira para todos”.
Todo o conjunto de inovações levou Dayn Amade a batalhar pelo registo da Propriedade Intelectual sobre o projecto durante cerca de três anos, na sequência de respostas negativas e argumentos provados.
“Essa foi outra guerra muito difícil. Passou por um grande escrutínio. É muito complicado e complexo, mas nós conseguimos e hoje temos uma patente registada, depois de três anos a discutir a nível internacional. Hoje também fazemos parte do grupo de estudos da ITO [International Telecommunication Union/União Internacional de Telecomunicações], que é o sector de telecomunicações das Nações Unidas, onde temos o nosso relatório técnico aprovado e publicado. São passos que nós demos depois de passar por muitos desafios”, contou.
Ele também avançou que a certeza sobre serem mais de dois milhões de pessoas abrangidas pela iniciativa se deve a uma outra tecnologia sua, igualmente, patenteada. “Ela se resume numa pequena câmara térmica no topo do monitor gigante. Consegue captar, distinguir e contabilizar as pessoas presentes”, revelou.
A primeira patente do Tablet Comunitário chegou em finais de 2018, registada e aprovada, nomeadamente, a do desenho industrial, e a segunda, a técnica, chegou este ano. Mas há mais: “temos uma terceira patente registada que é o modelo Anfíbio, desenhado para conectar ilhas, porque a nossa estratégia é não deixar ninguém para trás.”
E foi nesse espírito que, perante adversidades, Dayn e seus colaboradores se mantiveram firmes. Dos 11 Tablets Comunitários distribuídos pelo país, dois foram destruídos pelos ciclones Idai e Kenneth, “mas estão a ser revitalizados”.
Independentemente da geografia, o Tablet Comunitário procura alcançar as comunidades, pois pode ser atrelado a qualquer tipo de veículo rodoviário, incluindo canoas, e até mesmo a animais de tração.
Esta justa perseverança, e até conceptual do projecto, na medida em que vence as dificuldades da falta de meios de locomoção, garantiu-lhes parceria com a empresa do multimilionário Elon Musk, a Space X/Starlink, em 2022.
“Vimos o desafio de comunicação remota e online que temos para chegar às comunidades. Entramos em comunicação com a Space X, que é a Starlink, e eles apostaram em nós”, disse.
Essa aposta foi no fornecimento, a título experimental, de um satélite Starlink para o Tablet Comunitário funcionar com perfeição e rapidez nas piores condições climatéricas.
“Esta parceria ocorreu porque é nosso desígnio comum abranger zonas remotas. E nós fomos a antena ‘número 1’ a fazer os testes aqui em África. Na mesma unidade, utilizamos baterias Tesla, e está tudo a funcionar bem, até nas condições mais adversas. Particularmente, estou muito impressionado com capacidade e eficiência”, contou, destacando que outro benefício é a partilha de rede de internet (Wi-Fi/hotspot) para quem estiver nas proximidades da unidade.
Nas equações do projecto, a constante será sempre a elevação da consciência das comunidades. Exemplos práticos do Tablet Comunitário são as sensibilizações nos âmbitos académico, sanitário, financeiro, cívico e nutricional.
Menos contas, mais benefícios
Igualmente, recorrendo à tecnologia, o casal Jessen e Nilza Sengulane, co-fundadores da Xiphefu – candeeiro em Xichangana, língua do sul de Moçambique –, se propôs a reduzir o consumo de energia, em residências e empresas. Em 2016, criaram um sistema de automação que permite ligar e desligar dispositivos electrónicos (lâmpadas e termoacumuladores) utilizando telemóvel. E não pararam por aí: o sistema chegou aos ar condicionados, e desenvolveram lâmpadas solares, contribuindo para a eficiência energética.
Apesar de a representatividade do projecto circunscrever-se ao sul de Moçambique, com maior impacto em Maputo, eles levaram o nome do país para várias latitudes do mundo e fizeram contar nas maiores lides de exibição de tecnologia.
Em 2019, pela recomendação do Ministério da Ciência e Tecnologia, participaram da feira de tecnologia Africa Week, Organizado pela Unesco em Paris (França). No evento, “as pessoas ficaram surpresas por ter algo como aquilo, ‘controlado por telefone’”.
No mesmo ano, em Budapeste (Hungria), a Xiphefu representou Moçambique na maior competição de tecnologia do mundo, o ITU Telecom World Global SME Awards for Greastest Social Impact, no qual se tornou finalista entre mais de 140 representações de países diferentes. “Lá fomos distinguidos com o projecto de grande impacto social, e indicado para fazer o speech da cerimónia de fecho da edição.”
Esse foi o leitmotiv para desenvolver o projecto com mais afinco em Moçambique. “Nessa altura estava a trabalhar e todo o dinheiro que ganhava investia no projecto”, disse Jessen. Mas foi quando a pandemia chegou, com novas contas por contar…
Os projectos nos contra(tempos) da covid-19
A pandemia da covid-19 mudou o mundo, e o homem soube adaptar-se e as suas actividades ao tempo. Para os casos de Dayn Amade e o casal Sengulane, a pandemia deu relevância aos seus projectos.
Nesse período, o Governo recorreu à iniciativa Tablet Comunitário para disseminar mensagens de prevenção e importância da vacinação junto das comunidades afastadas das cidades. E, para o casal Sengulane, que já estava a assumir o seu projecto na íntegra, colocava-se à prova a sua capacidade inovadora.
Eles teveram um papel fundamental para travar a propagação da covid-19, tendo criado cabines de desinfecção e medidores de temperatura corporal que funcionavam a base de energia solar.
“Distribuímos as cabines de desinfecção para alguns municípios do sul do país. Com os sensores era possível medir a temperatura corporal e da torneira jorrava água apenas com o aproximar das mãos”, recordou Jessen Sengulane.
Ele disse que a inovação foi bem recebida, na medida em que se estava à procura de soluções para a pandemia, e “não havia muito tempo para se pensar”.
O pensamento foi certeiro, num ambiente de muita pressão e porque, no lugar de relaxar os trabalhos, estiveram intensamente empenhados em manter os cerca de 15 túneis de desinfecção operacionais. “Nada podia parar, e houve muito trabalho.”
“Isso ajudou-nos, de certa forma, a passarmos a época da covid-19, porque foi uma ‘almofada’ financeira”, notou. No entanto, os túneis foram deixados de lado por uma decisão governamental, “e então passamos por um período muito difícil. Não produzíamos nada, não vendíamos nada, e as empresas estavam a fechar as portas”.
“Em 2016, criaram um sistema de automação que permite ligar e desligar dispositivos electrónicos (lâmpadas e termoacumuladores) utilizando telemóvel”
Pensaram em desistir do projecto devido aos longos meses sem sucesso. De certo que essa não era a ideia a seguir. O que lhes restou fazer foi desenvolver o que já existia na empresa. Tiveram de provar sua resiliência, mais uma vez. Assim, os dispositivos que antigamente funcionavam com recurso à tecnologia bluetooth passaram a funcionar através de WiFi e internet, ampliando o uso remoto das suas funções.
“Embora não fizéssemos venda, aquilo nos motivava a continuar. Voltei a trabalhar em alguns projectos externos para novamente reinvestir na Xiphefu. E se tivéssemos ficado parados, só a lamentar, já não estaríamos com as portas abertas”, disse Jessen, com orgulhos nos olhos.
Outro suporte para os tempos difíceis foi uma subvenção atribuída pela TEF Connect – Plataforma africana de criação de redes digitais para empresários do continente – que reúne, a cada edição, cinco mil africanos para fornecer budget para investimento.
“Isso ajudou-nos a aguentar mais algum tempo, e investimos muito em matéria-prima para avançar com o que já tínhamos pensado. Foi o que fizemos”, contou.
Outros prémios nacionais, incluindo o de melhor solução digital inovadora, e internacionais de inovação e eficiência energética também serviram para manter a Xiphefu na trilha que já estava a seguir.
As portas que hoje mantêm-se abertas servem de entrada para o mercado de emprego a alunos do Instituto Industrial da Matola. Na verdade, a startup oferece estágios rotativos a esses alunos. Já passaram mais de 20 estagiários, alguns dos quais estão a trabalhar em grandes empresas.
Um grande projecto, dos vários que já têm no portefólio e no prelo, está a automação para a redução do consumo de energia em um edifício de sete andares, em Maputo. Nele, cada sala tem uma programação independente de controle de energia, e a taxa de sucesso com o sistema de redução de consumo verificada foi de 32%. “Nesse projecto utilizámos os interruptores digitais.”
Os ventos do futuro sustentável
Estes dois projectos contribuem de alguma forma para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Tablet Comunitário reutiliza materiais reciclados como plástico, e baterias para gerar energia, além da principal fonte de electricidade que são os painéis solares.
“Vemo-nos com a solução para implementar de forma realística infraestruturas públicas digitais em comunidades que não dispõem de infraestrutura e energia”, disse Dayn Amade.
Aliás, painel solar é um produto que mantém as contas da Xiphefu estáveis, pois, para enfrentar a concorrência, produz e comercializa lâmpadas solares automatizadas. Elas estão equipadas com sensores que permitem fazer a programação automática para ligar e desligar quando existir algum corpo em movimento dentro de um raio determinado, incluindo um dispositivo anti-furto – um alarme sonoro.
Quem igualmente contribui para o alcance dos ODS é o ambientalista Carlos Serra. Além de promover campanhas de remoção de lixo plástico nas praias moçambicanas, ele procura dar o destino certo aos materiais recolhidos. Com efeito, ergueu, na Macaneta, no distrito de Marracuene, província de Maputo, duas infraestruturas residenciais à base de vidro. São casas com valores ambientais e turísticos para a zona, além de um exemplo a seguir.
Por lá, na Macaneta, as casas servem de centros onde residentes locais e visitantes podem realizar várias actividades relacionadas ao ambiente e reuniões. “É o nosso ecocentro.”
Serra, que já tem larga experiência na luta pelas causas ambientais, é o mentor da Cooperativa de Educação Ambiental Repensar (antiga Ntumbuluku), que procura reaproveitar lixo marinho.
“Desenvolvemos a operação Caco, em 2015, e continuamos a realizá-la. Ela foi desenhada para gerar uma consciência sobre a gravidade das nossas actitudes e o impacto sobre a saúde humana, economia urbana e imagem do país”, explicou.
Esta visão atraiu e despertou novos activistas por todo o país que passaram replicar o movimento, “e começamos a funcionar em rede”.
O movimento mundial Let’s do It (Vamos à Acção), onde está integrada, desde 2018, esta acção de limpeza, já tem representações em todas e as cidades e vilas de Moçambique. “Isso é algo que muito nos orgulha.”
Mas nem tudo foi sempre uma praia sem cacos. Ele contou que o movimento resistiu às força inversas. “Uma grande operação de limpeza realizada numa manhã, e que retirou tolendas de lixo, era desvalorizada, porque logo à tarde lá estavam as pessoas jogar lixo novamente na praia.”
No entanto, lá estava uma força inabalável. “Ao longo do tempo percebemos que toda a grande mudança às vezes implica trabalhar à montante, e são várias fórmulas. E o grande compromisso é com uma causa maior: o ambiente do nosso país.”
“Eu nunca pensei em desistir. Sou bastante teimoso. Posso parar, pensar e fazer novamente. Em 2017, a nossa organização não tinha nenhum fundo, geríamos unicamente eventos, não tínhamos estrutura física e utilizávamos o endereço de um de nós”, referiu.
Ainda assim, os trabalhos continuaram e, em 2018, Carlos Serra recebeu uma distinção internacional assinada pela Rainha da Inglaterra, Elizabeth II. “Esta foi a maior. O reconhecimento existe, principalmente na rede do Let’s do It World.”
Na campanha mundial de limpezas, Moçambique está nos top 5. “No ano passado ficámos em terceiro lugar, no número de participantes, e em segundo na mobilização.”
Por outro lado, o foco está em criar oportunidade de emprego para as pessoas a partir do ambiente. “Sempre foi esse o meu sonho”. Em 2019, criou a EcoNsila, uma unidade de trituração de vidro e garrafas descartadas utilizadas em diversos fins como a produção de blocos.
“A cooperativa Repensar, no seu todo, já tem 47 pessoas”, revelou, lamentando, no entanto, o peso da carga fiscal sobre o projecto. “A falta de legislação tributária própria faz com que tenhamos carga fiscal de empresas, mas não somos empresa.”
Ele disse que existe uma cartilha de intensões para se reverter legalmente esse quadro, mas nada em concreto, como uma proposta para debate parlamentar. “Mas também, falta a união entre as cooperativas.”
A personalidade de Carlos Serra é transcendental, tal que se estende às acções humanas que perigam e violam o ambiente e a sobrevivência humana.
“As lutas são feitas de várias formas, e agora Carlos Serra lidera uma equipa técnica que está a elaborar a Política Nacional de Urbanização, no Ministério da Administração e Função Pública.
Em um vídeo que circulou nas redes sociais, expôs o avanço inicial da construção de uma zona residencial sobre um mangal, na zona da Costa do Sol, na cidade de Maputo. Decorria a fase de aterragem.
“Continuamos a insistir em erros como construir em zonas impróprias e à margem da legislação. Toda aquela região é ecologicamente sensível”, notou. Por conta disso, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo embargou a obra.
Esta luta rendeu-lhe ameaças de morte e perseguição. “Mas à medida que o tempo passa eu sinto que a fórmula está correcta. Só precisamos de ser acarinhados.”
Ele reconhece que estava a lidar com interesses imobiliários de elevados investimentos. “Mas o propósito não é impedir investimentos”. É mais do que isso: “chamar atenção para criarmos zonas municipais de protecção ambiental”.
Na sua visão, mesmo sendo imprescindível determinada obra, é necessário haver áreas remanescentes de mangal e bacias de retenção de águas pluviais. “Mas, infelizmente, as terras húmidas estão a desaparecer mais rápido do que os mangais. Estão a ser convertidas em imobiliárias”.
As lutas são feitas de várias formas, e agora Carlos Serra lidera uma equipa técnica que está a elaborar a Política Nacional de Urbanização, no Ministério da Administração e Função Pública.
“Este documento é uma oportunidade que integra uma forte dimensão ambiental e climática”, disse, destacando o objectivo de influenciar o desenvolvimento urbano, “a partir do próximo ano”.
“A minha visão de futuro passa por educar para a resiliência”, concluiu.
As contas para Cabo Delgado
A província de Cabo Delgado sofre uma crise humanitária generalizada por conta de ataques armados. É parte de Moçambique, e os esforços para sua reconstrução são envidados todos os dias. E cada moçambicano ajuda nessa conta como pode.
Apesar de o foco do Tablet Comunitário ser alcançar as comunidades mais distantes de tudo, Dayn Amad entende que as pessoas perderam o rumo das suas vidas precisam e merecem oportunidades para se reerguerem. Assim, 0 dispositivo estará à disposição das populações deslocadas nos centros de acomodação.
“Estamos a trabalhar agora num projecto que é para tornar os centros de deslocados em Cabo Delgado como centros interactivos. O Tablet já lá está, mas ainda não está a operar. A ideia é que lá as pessoas possam fazer alguma formação e tenham ferramentas para redireccionar as suas vidas”, disse.
Este plano vai, inclusive, permitir que pessoas separadas aquando das deslocações possam se reencontrar. Para tal, poderão deixar seus dados pessoais e muitos outros através de vídeos que serão exibidos pelos centros por onde o Tablet Comunitário passar. É um plano ambicioso que, este ano, se mostrou funcional no distrito de Boane, na província de Maputo, aquando das cheias, permitindo a reunificação de cerca de 80 famílias.
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