A falta de preparo e formação em assuntos ambientais está por detrás da ausência de um jornalismo ambiental em Moçambique. As conclusões foram feitas durante o debate sobre jornalismo ambiental organizado pela Associação de Jornalistas Ambientais e Direitos Humanos, (AJADH), em Maputo.
As alterações climáticas representam actualmente um problema global e requer soluções igualmente globais. É também uma das questões mais debatidas no mundo inteiro e, pelas piores razões, também em Moçambique. E não é para menos!
Muito recentemente a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência COP 26 que tinha como objectivo debater e criar soluções para a redução dos efeitos das mudanças climáticas que já são uma realidade incontornável ao nível mundial.
Em Moçambique os efeitos das mudanças climáticas começam a ser cada vez mais recorrente e intensas. Dados indicam que Moçambique é um dos países mais propensos a múltiplas ameaças ao nível da região austral e também do mundo. Este panorama levou a que a AJADH, uma Associação de Jornalistas Ambientais e de Direitos Humanos, organizasse o primeiro debate sobre o tema “Jornalismo Ambiental: como noticiar em tempos de mudanças climáticas”.
“As alterações climáticas representam actualmente um problema global e requer soluções igualmente globais”
O evento, que ocorreu na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, juntou estudantes, jornalistas, activistas sociais e professores universitários.
“Ainda notamos limitações na especialização em jornalismo ambiental no país, daí a pertinência de se discutir esta temática, para juntos encontrarmos soluções deste problema”, disse Sérgio dos Céus, director executivo da AJADH, na abertura do evento.
“Jornalismo ambiental é uma questão que tem a ver com a especialização. Se olharmos para esta temática a partir da especialização, vamos dizer que as redações não têm um jornalismo ambiental. Não existem pautas viradas para o jornalismo ambiental”, referiu Adão Matimbe, jornalista e professor universitário, durante a sua intervenção.
Matimbe classificou de “penosa” a situação do jornalismo ambiental em Moçambique. “As pautas ambientais, elas só têm espaço quando não há assunto na redacção, então a partir desta base vamos dizer que o jornalismo ambiental em Moçambique é muito incipiente”, afirma o professor, justificando em seguida que “os profissionais não têm preparação para produzir pautas ambientais, não tem sensibilidade para produzir matérias ambientais”.
“Os profissionais não têm preparação nem sensibilidade para produzir matérias ambientais”.
A alfabetização ambiental é urgente sobretudo para os profissionais da comunicação que dentre várias funções têm também a de educar.
O ambientalista Carlos Serra Jr, defende o conhecimento profundo das questões ambientais por parte dos jornalistas que é para melhor informar. “Não é possível um jornalista informar-nos melhor sobre assuntos ambientais se ele mesmo tem dificuldades para entender alguns conceitos ambientais”, referiu o ambientalista.
O professor Arsénio Farranguane, da Escola Superior do Jornalismo, alinha na mesma diapasão e refere que é preciso que o jornalista entenda a questão ambiental antes mesmo da prática do jornalismo ambiental.
Adão Matimbe diz que a culpa é de todo um processo de educação que começa da base até ao topo. “No ensino primário, existem até alguns conceitos ligados ao clima, temperatura, mas depois não há uma continuidade no secundário e superior”, refere. Diz que o papel de ensinar matérias ligadas ao meio ambiente não deve ser só das universidades. “Estamos a falar de uma área transversal que parecendo que não, mexe muito com a nossa vida”, diz o professor.
Introduzir cadeiras ambientais…
O mundo está a mudar e a temperatura global está a aumentar de forma exponencial. A necessidade dos media informarem de forma exacta e precisa sobre assuntos ambientais, e os seus impactos, é cada vez mais urgente. Não se pode mais esperar.
“Enquanto se adia o debate nas universidades sobre introdução de cadeiras de jornalismo ambiental, a comunicação social não deve adiar o debate”, comenta Matimbe, acrescentando que “é obrigação dos media agendar as questões do meio ambiente no seu dia-dia”.
O músico Stewart Sukuma, que também foi orador no debate, defendeu a ideia de reportar os assuntos ambientais diariamente. “Não se pode falar só de assuntos do meio ambiente quando temos o desabamento de uma lixeira, por exemplo (…) Esses assuntos devem fazer parte do processo diário até que as pessoas comecem a perceber a importância disto”, referiu o músico, que também defendeu a introdução de cadeiras ambientais nos currículos escolares.
Segundo este a mudança passa necessariamente por um processo de educação que deve começar também na escola. “Precisamos de educar as pessoas sobre as práticas ambientalmente saudáveis.
Farranguane diz que não basta apenas reportar. É preciso entrega, abraçar a causa do meio ambiente. Este diz que o jornalista deve assumir o papel educativo, pedagógico do cidadão e transformador. Defende ainda a especialização em jornalismo ambiental para que estes sejam melhor informadores em matérias ambientais.