Escolha de um candidato presidencial no rescaldo das últimas eleições autárquicas

Escolha de um candidato presidencial no rescaldo das últimas eleições autárquicas

No dia 11 de outubro de 2023, realizaram-se eleições autárquicas em Moçambique. O partido FRELIMO, no poder desde a independência em 1975, venceu novamente. Contudo, surgiram controvérsias sobre a transparência e alegações de irregularidades. Os principais partidos da oposição, a RENAMO e o MDM, contestaram os resultados.

Embora a Comissão Nacional de Eleições (CNE) tenha anunciado resultados oficiais em 26 de outubro, dando vitória à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 64 das 65 autarquias, a indefinição tomou conta da sociedade moçambicana. A contestação aos resultados pela oposição e por organizações da sociedade civil denunciou uma “megafraude” a favor da FRELIMO. Em resposta a esse sentimento, houve tentativas de paralisação do país e manifestações violentas em várias partes do território, até ao anúncio do Conselho Constitucional.

A pergunta “mas quem ganhou?” reflete a sensação de injustiça e frustração geradas pelos 40 dias de indefinição sobre os vencedores das eleições. Entre as reviravoltas nos resultados em alguns círculos eleitorais e o silêncio em outros considerados vitais, até ao pronunciamento do Conselho Constitucional, que contrariou os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, revertendo 8 autarquias que haviam sido ganhas pela FRELIMO. Assim, fixou-se o resultado destas eleições, que já são consideradas “as mais fraudulentas” em Moçambique desde a independência, com a vitória da FRELIMO em 56 das 65 autarquias.

Acalmada a animosidade em torno dos resultados, eu, pacato cidadão informado, considero que todos saímos a perder com todo o processo e com a aceitação dos resultados das eleições. Mais do que revelar uma oposição política fragilizada e desorganizada, os resultados anunciados desprestigiam, descredibilizam e fragilizam a Democracia em Moçambique. Precisamos todos de fazer mais e melhor para o bem do país e das instituições que o representam, sob pena de continuarmos a adiar o sonho de muitos moçambicanos.

Durante e após as eleições, tenho assistido à “batalha” entre o Deputado Venâncio Mondlane, ex-relator da Bancada da RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique, e o líder do seu partido, o General Ossufo Momade, com vista à definição do melhor candidato desta organização política às próximas eleições presidenciais. Hoje esta batalha transbordou para os tribunais.

Numa escala diferente, mas com as mesmas pretensões e repercussões, tenho assistido às dificuldades de definição do candidato no partido FRELIMO, que acaba de sair de uma reunião do seu Comité Central, mais dividido do que em comunhão de ideias e liderança.

Na posição que me reservo como simples e pacato cidadão informado, atento e preocupado com a escalada da pressão social e da pobreza no nosso país, reconheço que é importante que aqueles que nos governam percebam que todo o processo de evolução e desenvolvimento é feito por etapas. Cada um cumpre o seu papel até ao momento de passar o testemunho para que outros continuem a sua missão. Este passar do testemunho não deve ser entendido como desvalorização ou ingratidão, mas sim como etapas de evolução naturais.

Infelizmente, a vontade de perpetuação dos nossos líderes nos cargos que lhes confiamos denota um profundo desinteresse pelas conquistas coletivas. É hoje mais do que evidente que a incapacidade dos partidos políticos que nos representam em gerirem as suas agendas internas prova a manifesta contestação e falta de liderança alicerçada na liderança servidora e conquistas coletivas que transcendem os interesses destas agremiações políticas e dos seus filiados. Isso está demonstrado no empobrecimento do país, na incapacidade do Estado de lidar e ultrapassar as pressões económicas e sociais, e na frustração popular. Como resultado, há uma crescente descrença nos instrumentos que indicam estes que se perfilam para o papel de governação do país. No caso da RENAMO, é ainda mais agravante, pois ela própria se esforça para comprovar que, mesmo com uma grande base de apoio eleitoral fruto do voto de protesto gerado pelos anos de insatisfação e frustração com a governação da FRELIMO, o partido no poder desde a independência do país, não tem ambição de valorizar as conquistas coletivas, muito menos vontade de governar, deixando a descoberto a sua incapacidade de provar ao eleitorado que é uma alternativa viável aos sonhos adiados de maior parte dos moçambicanos.

No rescaldo das últimas eleições autárquicas, entre “atropelos” aos seus próprios estatutos e tentativas de afastar as vozes inconformadas com o silêncio dos resultados pós-eleitorais, estes dois partidos precisam de provar ao povo que representam que são capazes de muito mais do que apenas gerir os seus problemas internos, que, no meu entender, representam apenas uma fração das dificuldades estruturais deste Moçambique. Apesar das várias potencialidades em termos de recursos naturais que lhe são reconhecidos, o país está classificado como um dos cinco mais pobres do mundo.

Por enquanto, a pergunta já não é “mas quem ganhou?”. A pergunta é “quem irá realizar o sonho de Moçambique?” Será possível confiar a liderança do país a “líderes” que demonstram falta de vontade de governar e incapacidade de provar ao eleitorado que são uma alternativa viável, colocando os desígnios e as necessidades estruturais do país acima das suas aspirações pessoais?

Eu espero que os “nossos” líderes sejam capazes de provar que sim, pois nós, o povo, o merecemos. O futuro do país depende do vosso empenho, abnegação, entrega e compromisso.

A LUTA CONTINUA
Assinado por Ekhwueli
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