Rezai por Cabo Delgado, pois ainda há gente inocente que morre de morte macaca por lá.
É verdade que de quando em quando pontapeamos pelos calcanhares para debaixo do tapete tudo que se passa em Cabo Delgado. Mas é impossível colocar debaixo do tapete as cabeças decapitadas e coroadas de sangue, as casas com os tectos bailando sobre chamas e a população comendo aos gomos os seus enormes gritos.
Há dias, os terroristas transformaram casas em molhos de cinzas na aldeia de Ninga; depois desceram até à aldeia de Muambula e decapitaram uma senhora – que ela sabe de gás? Há quem fale dos movimentos dos terroristas nas aldeias Samora Machel e Unidade. Rezai por Cabo Delgado, pois por lá escasseiam pescoços que possam suportar um simples terço, o medo é talvez a reza que fala mais alto, mas nenhum deus compreende a linguagem do medo. Rezai por Cabo Delgado…
Temos as corajosas forças do Ruanda e o braço militar da SADC, mas rezai por Cabo Delgado. Rezai por um travesseiro de luz às cabeças que são todos os dias arrancadas da população, rezai por essas cabeças que por não terem mais lágrimas, sangram poças de sangue. Que campeonato é esse onde os terroristas vão medalhando a população com catanas sem parar? Será que a população é medalhada por pôr o pé na estrada e tentar fugir da morte?
Ainda o mês passado, três pessoas viram suas cabeças arrancadas na aldeia Mandela, no distrito de Muidumbe. Em Chibabede, os terroristas fuzilaram com uma baioneta a cabeça de um líder local e coroaram com chamas gigantes casas e casas. É impossível um líder continuar um líder sem a cabeça? Rezai, rezai por Cabo Delgado.
Rezai por mais de dezasseis militares que, há dias, viram-se regados pelos terroristas e depois embrulhados em caixões porque o seu combate já tinha terminado – perdi um amigo nessa operação. Os vizinhos do aeroporto de Pemba viram militares feridos sendo evacuados e outros, coitados, balouçando no duro estendal da morte. Rezai por Cabo Delgado e pelos militares que andam por lá tentando colocar uma fatia de sossego na boca da população. Rezai pelas dez pessoas que foram decapitadas, no dia 29 de Agosto, em Maera – cruzamento de Nacololo e Milange, rezai pela população de Ancuabe, Namuembe, Meluco, Macomia e Palma, rezai pela população de Cabo Delgado.
Rezai, também, pela população de Nampula que anda com um enorme tubérculo de medo no lugar do coração, rezai pela população de Nampula que viu aquilo que chamava casas reduzido a um enorme entulho de cinza e rezai pela freira que foi baleada em Nampula enquanto se arrastava para uma capela para orar.
É verdade que de quando em quando pontapeamos pelos calcanhares para debaixo do tapete tudo que se passa em Cabo Delgado. Mas é importante que rezai por Cabo Delgado. É verdade que tudo que pontapeamos para debaixo do tapete vai fazer doer os nossos joelhos, mas rezai por Cabo Delgado.
E há gente que sem nada em Cabo Delgado, gente que só tem as duas pernas para peregrinar e se deixar baptizar nos relatórios como deslocados, há gente que desde 2017, em Cabo Delgado, vive apenas para ver os seus desaparecendo, gente que desde 2017 faz de tudo para não terminar como bichos nos matadouros dos terroristas. Eu dizia que é impossível colocar debaixo do tapete as cabeças decapitadas, assim como é impossível abotoar com sorrisos as bocas das crianças carregadas de bagagens de terror que se espalham em Cabo Delgado.
E há, de longe em longe, em Cabo Delgado, saques de bens, sequestro de gente inocente e desaparecidos. Podia falar de dois cristãos que foram decapitados, em Junho em Chiure – na zona de Mazeze.
Rezai por Cabo Delgado…
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