Manifestantes em Paris pedem “povo no poder” em Moçambique e denunciam repressão policial

Manifestantes em Paris pedem “povo no poder” em Moçambique e denunciam repressão policial

Paris foi palco de uma manifestação da diáspora moçambicana, em frente à Praça da Bastilha, ontem, quinta-feira (07). Tal como em Maputo e em outras partes do mundo, os manifestantes juntaram-se para contestar os resultados das eleições gerais de 09 de Outubro e para denunciar a repressão policial nas manifestações em Moçambique.

Segundo uma publicação da RFI, nas ruas de Paris ouviram-se coros de “povo no poder”. A mensagem dos moçambicanos em protesto chegou à capital francesa, junto à simbólica Praça da Bastilha. Um grupo de mais de 20 pessoas empunhou cartazes com palavras de ordem e exibiu bandeiras de Moçambique, mas também cantou o hino moçambicano a “Pátria Amada”.

Laura Chirrime pertence ao grupo Indignados – Sociedade Civil dos Moçambicanos da Diáspora, um movimento que organizou em Paris e em várias outras cidades manifestações, esta quinta-feira, para pedir justiça eleitoral e para denunciar a violência policial nos protestos em Moçambique.

“Pretendemos mostrar ao mundo o que está a acontecer em Moçambique. O mundo não sabe o que se passa. Sabemos que muitas organizações estão aqui em Paris, muita gente vai-nos ver. Estamos a gritar ao mundo ‘Socorro, por favor, ajudem-nos, Moçambique não está nada bem”, afirmou Laura Chirrime.

Nos cartazes dos manifestantes podia-se ler, em português e francês, “Povo no poder”, “Liberdade para o povo”, “Moçambique igual para todos” e “Voto não é atestado de óbito”, mas também se liam críticas à Frelimo, partido no poder desde 1975.

Entre os manifestantes, a cantora Assa Matusse destacou que os artistas também têm o dever de se mobilizar.

“É a primeira vez, na verdade, que me envolvo desta forma, sempre disse para mim mesma que jamais me iria posicionar politicamente porque a minha missão nesta terra é fazer música, mas chegam situações em que se ultrapassa a arte, ultrapassa todos os limites”, referiu a contora.

Outro artista presente era o músico Samito Tembe que empunhava o cartaz com a frase popularizada pelo rapper Azagaia, “Povo no poder”.

“Eu não tenho medo. Povo no poder. Povo no poder. Povo no poder todos os dias. Eu não percebo como é tu votas, os dirigentes vivem à custa dos nossos impostos e não podemos reclamar se alguma coisa está mal. Não compreendo. Não vejo porque é que nos estão a atirar gás lacrimogéneo em Moçambique, estão a matar pessoas, não percebo…”, secundou Tembe.

“Alô mundo, alô Paris, alô França!”, gritou o investigador Anésio Manhiça, de passagem por Paris, que também agarrou no megafone para lembrar que os moçambicanos se reuniram nesta manifestação “por uma questão de direitos humanos e de justiça em Moçambique”.

“Podemos falar e manifestar em Paris. Aqui, não corremos nenhum perigo, ao contrário dos nossos irmãos que estão em Moçambique. Estamos aqui para lançar esta voz contra a injustiça social em Moçambique, a injustiça eleitoral, os direitos humanos que estão a ser feridos em Moçambique, incluindo direito de liberdade até digital. Estamos aqui para lançar esta voz, ver se somos ouvidos e para poder ver alguma mudança política e social em Moçambique”, enfatizou Anésio Manhiça.

Entre os manifestantes havia também angolanos, como Lucas dos Santos, movido pela solidariedade com o povo moçambicano e pela luta pela justiça.

“Somos todos africanos. Temos muitos laços que nos unem, começando pela língua portuguesa porque fomos colónia portuguesa. Somos a favor da liberdade. É injusto aquilo que se vive em Moçambique numa fase como esta. O poder é do povo e o povo é que deve escolher as pessoas que devem governar. Estamos aqui para dizer abaixo os assassinatos, abaixo a ditadura. Como angolanos temos que estar solidários, como sempre estivemos, com o povo moçambicano”, disse o angolano.

Além de Paris, os pedidos de justiça eleitoral e respeito pelos direitos humanos em Moçambique foram repetidos em várias outras cidades onde há diáspora moçambicana e em Maputo, o epicentro das manifestações.

Moçambique tem estado sob tensão desde a realização das eleições gerais de 09 de Outubro.

As manifestações e consequentes confrontos entre polícia e manifestantes agravaram-se após a Comissão Nacional de Eleições ter anunciado os resultados, a 24 de Outubro, que davam vitória ao candidato do partido no poder Frelimo, com 70% dos votos, sendo seguido pelo candidato apoiado pelo partido PODEMOS, Venâncio Mondlane. Mondlane, que disputa os resultados, tem convocado manifestações e paralisações gerais desde então.

 

(Foto DR)

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