Os sistemas de vigilância do HIV necessitam de dados de alta qualidade e representativos, para orientar as respostas nacionais, especialmente entre as populações mais afectadas pela epidemia – populações-chave e prioritárias.
Entre 2011-2013, o Ministério da Saúde (MISAU) realizou cinco inquéritos biológicos e comportamentais entre as populações-chave (mulheres trabalhadoras do sexo, homens que fazem sexo com homens, pessoas que se injectam drogas) e populações prioritárias (camionistas de longo curso e mineiros) como parte do sistema nacional para a vigilância do HIV.
Descrevemos neste artigo as principais lições aprendidas durante a implementação destes inquéritos, que incluem: a importância da colaboração multissectorial, como os resultados dos inquéritos serviram para dar mais visibilidade à estas populações e aumentar a advocacia, e, capacitação das instituições governamentais, assim como das organizações destas populações.
Uma vez que os sistemas tradicionais de vigilância do HIV muitas vezes não capturam estas populações ocultas, será importante garantir que inquéritos de vigilância biológica e comportamental sejam parte integrante das actividades de vigilância do HIV no país.
Uma pesquisa realizada por investigadores da área de vigilância do Instituto Nacional de Saúde (INS) e seus parceiros refere que a primeira experiência com o desenho, implementação e a análise de inquéritos biológicos e comportamentais contribuíram para compreender os factores comportamentais que concorrem para a transmissão do HIV entre populações-chave prioritárias no país. Estas lições aprendidas fornecem oportunidades para reflexão sobre estratégias para a implementação de pesquisas futuras.
Norteou a realização deste estudo o facto de Moçambique possuir uma das maiores prevalências de HIV do mundo, estimada em 13,2% entre adultos dos 15–49 anos. Homens que pagam por sexo são considerados uma “ponte” para a infecção pelo HIV. No entanto, as características destes homens ainda não estão muito claras.
O presente estudo teve como objectivo descrever as principais características dos homens que pagam por sexo, estimar a prevalência do sexo pago por homens, e investigar os factores de risco associados ao sexo pago.
Como metodologia, foram analisados dados de 4,724 homens, com idades entre 15 e 49 anos, como parte do Inquérito IMASIDA 2015. Analisamos associações entre o sexo pago e diferentes características incluindo as sócio-demográficas, número de parceiras sexuais ao longo da vida e recentes, uso do preservativo na última relação sexual, auto-reporte de sintomas de infecção de transmissão sexual (ITS) e outras.
Como resultado, o estudo aponta que a prevalência geral de sexo pago nos últimos 12 meses foi de 10,4%, sendo a província de Cabo Delgado com a maior prevalência (38,8%).
Os homens que pagaram por sexo nos últimos 12 meses eram maioritariamente dos 20 a 24 anos 13,5%, não casados/união 17,8%, com nível de educação primária 11,9%, do quintil de riqueza mais baixo 14,0%, com mais de três parceiras sexuais sem ser a cônjuge 44,7% e auto-reportaram ITS 44,2%.
A prevalência do HIV foi maior entre os homens que já pagaram por sexo em comparação com os homens que não pagaram (13,1% vs. 9,4%,).
Homens com mais de 10 parceiras, da província de Cabo Delgado, que relataram sintomas de ITS nos últimos 12 meses e HIV positivos tiveram maior probabilidade de pagar por sexo.
Ainda em jeito de conclusão, estes resultados, cujo estudo foi tornado público em 2021, realçam a necessidade de intervenções mais abrangentes para que se possam reduzir os riscos de infecção durante o sexo comercial e transaccional.
Fonte: Notícias