O treinador português de atletismo Alberto Lário foi detido e entornado numa cela, porque permanecia de forma ilegal no país. Depois da sua detenção, falou-se de que seria embalado, metido no avião e deportado ao seu país, Portugal, como se de um produto sem selo se tratasse. O treinador está há 6 anos mendigando, de mão esticada, a nacionalidade do país que o viu nascer: Moçambique. São 6 anos e o SENAMI, Serviço Nacional de Migração, decidiu agir.
Claro que amanhã, no meu país, será possível morrer, ser enterrado, seguir a viagem à casa do Senhor, responder ao juízo final, subornar os anjos com mentiras e rogar ao Senhor de joelhos: “Pai, ainda não foi emitida a minha certidão de óbito”. E o Senhor, meditando sobre um arquivo enorme de penas e condenações, gritará aos seus anjos do SENAMI: “prendam e deportem ao inferno esta alma ilegal”.
Que vergonhoso! Alberto Lário foi arrancado das pistas de atletismo, passado uma estafeta de algemas e arrumado como um criminoso perigoso nas celas da Brigada Desmontada. Há 6 anos o treinador tem a mão plantada num guiché público e mendigando a nacionalidade moçambicana.
Dizem que é um treinador ilegal e deve ser deportado, mas quando punha o país a correr nas pistas do atletismo mundial ninguém corria atrás da sua ilegalidade e ninguém despertava o SENAMI desse sono de 6 anos. Sabemos que o SENAMI foi treinado por alguns invejosos para correr do treinador.
E porque o SENAMI é campeão nacional em pista aberta podia, muito bem, correr atrás de todos os estrangeiros da Baixa que andam com uma nota de 500 meticais no lugar da autorização de residência. O SENAMI podia ganhar troféus de ouro se investigasse os recordes olímpicos dos chineses que pousam no aeroporto e no dia seguinte já têm bilhetes de identidade e ganham apelidos moçambicanos.
A esta hora, o treinador tem a cabeça enrolada no travesseiro das suas próprias mãos, ouve os carros que correm nas pistas da estrada da avenida de Moçambique e de certeza tem vontade de sair da cela e dizer aos automobilistas: “não corram que o semáforo ainda não apitou”.
E a Federação Moçambicana de Atletismo vai arrecadando troféus olímpicos de silêncio, procurando apoios para fazer uma pista moderna que termine nas celas da Brigada Desmontada para todos os ilegais e vai correndo, de esquina em esquina, à procura de mais ilegais para apresentá-los ao SENAMI.
Se o atletismo fosse uma dessas empresas de estradas, se fosse uma empresa de saque ao mar e às florestas, se fosse uma empresa de enormes pás que exuma minérios, o treinador, ainda no aeroporto, ainda sem começar a contar os 6 anos de espera, já teria tido um padrinho que lhe ajudasse a apagar as velas dos seus 6 anos de espera e teria tido na hora a nacionalidade moçambicana.
Mas o atletismo e suas medalhas só fazem bem ao coração, não aumentam divisas do país, não fazem crescer as exportações e não enchem o país de investimentos e empresários.
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