A crise dos contentores veio abalar a cadeia de abastecimento mundial. Actualmente, 90% das mercadorias do mundo são transportadas por mar, dos quais 60% são alimentos, eletrodomésticos e outros bens, os restantes 40% são matérias-primas, necessárias para o bom funcionamento de vários sectores industriais, segundo os dados da OCDE.
No total, e tendo em conta as informações da mesma organização, esta crise pode afectar um universo de bens avaliado em 14 biliões de dólares, de acordo com a análise do Statista Research Department.
Para além da escassez de contentores, faltam navios
o sector “dá de caras” com a falta dos próprios navios, especializados neste tipo de transporte, os chamados porta-contentores, avança o Financial Times (FT).
O sector alerta para o facto de, apesar de já terem sido encomendados vários navios, tudo levar a crer, que tendo em conta a procura em massa por novos porta-contentores, as empresas enfrentarão “anos tensos”, com falta de meios, para cumprir os prazos previstos.
Para Xavier Destriau, CFO do Zim de Israel, um dos maiores grupos de transporte marítimo do mundo, a escassez de navios é “uma grande ameaça”, para as empresas e para a sua segurança, já que muitos porta-contentores que deviam ter ido “para a sucata, continuam a operar, de forma a satisfazer a procura”.
“Estamos a sentir que nos próximos três, quatro, ou até mesmo cinco anos, a falta de navios vai afectar-nos profundamente”. O alarme de Destriau foi ecoado por Ando Case, CEO da Clarksons, a maior consultora ligada ao transporte marítimo do mundo: “o número de estaleiros em todo o globo caiu em pelo menos dois terços desde 2007, para cerca de 115 instalações”.
Segundo Case, estes estaleiros são inundados por um dilúvio de encomendas, “tendo arrecadado um lucro sem precedentes, durante todo o ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021”.
O executivo explicou, em entrevista ao FT, que a procura por mercadorias disparou partir do segundo semestre do ano passado.
Este problema é exatamente o oposto do que foi vivido na última década pelas empresas de transporte marítimo, cuja a rentabilidade, durante estes anos, definhou devido ao excesso de navios e à fraca procura pelos mesmos. Grandes companhias como a Hanjin da Coreia do Sul foram obrigadas a restruturar-se.
Por outro lado, as empresas fogem à armação de porta contentores movidos a GNL, um combustível verde. Neste semestre, segundo o FT, a Maersk evitou comprar este tipo de porta-contentores, argumentando que “ainda paira muita incerteza no mercado contra a regulamentação e o futuro tecnológico desta inovação”.