A casa de vidro, situada nas imediações do Macaneta Beach Resort, no distrito de Marracuene, é uma obra de arte que surge em resposta ao lixo que tem sido descartado no meio ambiente.
Depois de vários anos de um trabalho intenso em projectos ligados à recolha de lixo (vidro) entre outro material em vários locais da província de Maputo, surge a ideia da construção da casa de vidro, com o apoio da Noruega.
“Quando cá viemos com o apoio da Noruega (…) decidimos fazer uma casa piloto integrada no ecocentro”, refere Carlos Serra, activista ambiental e responsável pela casa de vidro, sentado no muro da varanda. “Uma casa que fizesse com que as pessoas mudassem só na visita e percebessem que o vidro, afinal, não é lixo, é recurso e pode ser usado para diversos fins”, explica o ambientalista.
“E enquanto ainda não temos grandes soluções industriais para o vidro, mostramos que ele pode servir para fazer isto que está aqui”, diz enquanto nos “puxa” para o interior da casa, dando-nos detalhes da sua construção e o material utilizado. A casa é tipo 2. Ou seja, possui dois quartos, casa de banho, cozinha e uma sala de estar.
“Sabe, até ao momento usámos cerca de 160 mil garrafas para a sua construção”, começa por esclarecer. Sim, “o vidro é usado em vários componentes, ou seja, em fundações. Em vez de usarmos a pedra brita usamos o vidro partido e depois aplicamos também o vidro moído que substitui parte da areia”, explica em entrevista ao MZNews.
E, continua o ambientalista, “a partir daí, usamos vidro como o bloco, mas também podemos fazer bloco de vidro, que é um produto produzido por nós”, revela à nossa reportagem. A casa conta com três modelos de paredes desde as mais luminosas até às com menos luminosidade.
O uso de garrafas é feito também de forma diversificada. “Portanto esta é a parede onde as pessoas ficam encantadas impressionadas (…) é o lugar onde nós achamos mais espiritual”, diz referindo-se a uma das paredes da sala. “Usamos uma diversidade de garrafas e, normalmente até são garrafas espirituosas e não são uniformes. Usamos diversidade de cores, formas e peso. Aqui entra tudo”, esclarece. “Nesta outra parede”, diz enquanto aponta, “nós vemos a base por dentro e a parte mais fina por fora”, diz, sem descorar o aspecto da luz. Sim, “aqui jogamos com a luz (…) dá para ver o efeito da luz. É a sala de estar e, actualmente também serve para sala de leitura”, afiança.
Serra não consegue precisar os valores exactos dos gastos na construção da casa, mas confessa que é muito mais acessível que uma casa que obedece os padrões modernos. “Esta casa consegue custar 30% de uma casa normal”, revela. Aliás, na construção da casa dispensa-se o uso de betão e laje. E mesmo assim, oferece 100% da segurança.
“É totalmente resiliente. Ela obedece a todos os padrões de resiliência, até as vigas e os pilares estão consolidados. As paredes são totalmente fortes”, garante o ambientalista em conversa com a nossa reportagem. O apetrechamento, mobílias é tudo produto de material reciclado. A casa possui igualmente uma ventilação natural. “A casa é toda ela fresca. Não precisa de ar condicionado”, revela o ambientalista justificando que o facto deve-se ao tipo do material utilizado e à arquitetura.
Projecto sustentável
Do lado de fora a casa possui um sistema de caleira para a captação da água da chuva. “isso significa agora que quando chover, iremos fazer a captação das primeiras águas”, informa. “Além disso fizemos um poço onde é possível tirar-se a água”.
Mas há outros projectos que perfazem a casa do vidro. “Sim, nós aqui já estamos num espaço que vai ser cultural. Esta árvore que vês vai ser o nosso ar-condicionado”, diz, dirigindo-se a passos lentos até à árvore. “Ela vai ser a sombra de um pequeno anfiteatro que vai existir aqui”, salienta já com a mão encostada na árvore.
“Vamos ter aqui secções culturais, educação ambiental, (…) o objectivo é também combinar cultura e ambiente”, confidencia. “Queremos criar também uma certa sustentabilidade deste local”, assegura.
Em termos da matéria-prima o trabalho da recolha continua. Diariamente há uma equipa de trabalho que se dedica à recolha de garrafas de vidro, plástico, redes, entre outros tipos de “lixo”. Mas também há um processo de compra. “Sim, compramos aquilo que tem valor no mercado, assim como aquilo que não tem.
“Neste caso o vidro, e somos os únicos que damos esse valor”, esclarece. No processo da recolha de garrafas há também espaço de parceria com algumas empresas poluidoras. “Sim, por exemplo, a CDM ajuda-nos a transformar o vidro em soluções. A Coca-Cola é que tem financiado a operação da recolha de garrafas Pet”, diz.
A médio longo prazo, haverá projectos de construção similares a este, ou se calhar, superiores de ponto de vista técnico, mas o ambientalista prefere não dar muitos detalhes. Sim, “iremos fazer algo maior no futuro. Logo que as condições forem criadas, faremos num outro lugar um empreendimento maior desenvolvendo esta técnica”, confidencia. E será com mais inovação. “Uma das coisas que queremos futuramente fazer em relação à cobertura, é introduzir a telha solar logo que ela esteja disponível”, conclui.