Um inquérito desenvolvido pelo escritor e jornalista norte-americano Alex Perry, estima que tenham morrido ou desaparecido cerca de 1200 pessoas no ataque rebelde a Palma, província de Cabo Delgado, em Março de 2021 e na violência dos dias seguintes.
“No total, 1193 pessoas foram mortas ou estão desaparecidas (presumivelmente mortas) e outras 209 pessoas foram sequestradas”, sendo que, entre os mortos, há 156 com menos de 18 anos, incluindo bebés e crianças, refere na sua página pessoal na Internet.
Os resultados do inquérito, publicados na última semana, detalham que, os desaparecidos totalizam 432, há 366 pessoas abatidas a tiro e 330 decapitadas.
Segundo Alex Perry, nenhuma entidade (governamental ou outra) apresentou até hoje um balanço do número de vítimas do ataque que paralisou o projecto de gás liderado pela TotalEnergies e agravou a crise humanitária na província, sob fogo de insurgentes desde 2017.
A lacuna pareceu tão “assombrosa” para o autor, que usou 20.000 dólares de um prémio (George Polk Awards) obtido com outra reportagem que escreveu sobre o ataque para regressar a Cabo Delgado e financiar o inquérito.
“Ouvia-se falar de centenas de mortes, mas não havia um balanço”, recorda.
Alex Perry, explica que, os números foram obtidos porta-a-porta em 13.686 casas de Palma e 15 aldeias em redor, entre Novembro de 2022 e Março deste ano, por uma equipa contratada por ele, “com cuidado” quanto ao rigor e domínio das línguas locais.
“Fomos meticulosos: 97% das mortes estão identificadas com nome, idade, género, morada e pela forma como morreram”, refere.
Alex Perry estima que o número seja maior, porque a análise dos resultados foi “conservadora”, excluindo informação dúbia, e porque só abrange civis (nas comunidades inquiridas), excluindo baixas entre militares, insurgentes e trabalhadores no projecto de gás.
Questionado sobre o que pretende alcançar com a publicação, o autor diz que, como jornalista, se limita a “estabelecer um facto”.
“Aquilo que as pessoas fazem com os factos já não é o meu trabalho”, disse.
Perry acrescenta à recolha uma opinião condenatória da TotalEnergies, considerando-a responsável pelo que aconteceu: “Não estamos a dizer que a Total matou alguém, mas prometeu segurança” que só existiu para a zona vedada do projecto, acusa, e com forças moçambicanas que nunca mostraram capacidade para proteger a população.
“Não se pode fingir ser um bom vizinho” e depois “não prestar atenção” quando morrem mais de mil pessoas ou não ter interesse na contagem dos mortos, referiu Perry.
O autor partilhou os dados com a petrolífera francesa e autoridades do Governo moçambicano, mas diz que não obteve nenhuma resposta.
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