O grupo radical Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira, 23, a execução de mais um “cristão”, quase um mês depois do massacre de outros 11 “cristãos”, no distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.
Esta nova referência a cristãos, para analistas políticos, sugere uma nova estratégia de propaganda e visibilidade da nova liderança.
Através dos seus canais de propaganda, o grupo refere ter morto por decapitação um cristão capturado perto da aldeia Chiquimba, na zona de Mocímboa da Praia, não distante de Naquitengue, onde foram executados outros 11 em meados de Setembro.
“Os soldados do califado capturaram um cristão infiel na zona de Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado no domingo passado, e massacraram-no com chacina, louvado seja Deus”, escreve em comunicado o grupo, referindo que o incidente ocorreu no Estado de Moçambique.
A Voz da América não conseguiu verificar de forma independente a veracidade do anúncio que está espalhado nas redes sociais, mas vários relatos locais indicam que uma pessoa foi decapitada nas quintas de caju, quando tentava informar aos pais, no cajueiro, sobre a presença de terroristas na zona.
Analistas políticos sugerem que com ataques a “cristãos” numa zona de maioria muçulmana, o grupo pretende “vincar a imagem” da nova liderança do grupo e prevalecer o terror na região.
Em conversa com a Voz da América, Tobias Zacarias defende que a guerra em Cabo Delgado continua a ser de cariz social, onde grupos de jovens se insurgiram para reclamar ganhos económicos dos megaprojetos de gás natural, tendo outros grupos, incluindo traficantes de drogas e pedras preciosas, aproveitando essa luta para se financiarem.
Sobre as mortes de cristãos e a destruição de igrejas em Cabo Delgado, Zacarias considera que “as evidências no terreno não concorrem para um extremismo de caráter religioso, o extremismo em Cabo Delgado é mais social e poliíico”.
Aquele observador realça que a religião está a ser usada apenas como propaganda “porque não teríamos também mesquitas e muçulmanos decapitados”.
Por sua vez, Wilker Dias, que tem uma defesa de mestrado sobre a guerra em Cabo Delgado, é de opinião que a nova liderança pretende chamar atenção do mundo com a nova estratégia de execução de cristãos, mas insiste que a guerra em Cabo Delgado não se cinge à religião.
“Não se trata de uma clivagem religiosa, é uma propaganda para chamar a atenção aos diversos atores nacionais e internacionais porque o pressuposto do terrorismo é causar terror num país de maioria cristã, e os cristãos serão os alvos mais usados nessa perspetiva de mudança de liderança dos terroristas”, vinca Wilker Dias.
Os insurgentes que atuam em Cabo Delgado têm ligações com o Estado Islâmico e tem realizado ataques esporádicos em vários distritos devastados pela violência, que entrou no sexto ano neste mês de Outubro.
Os novos ataques são protagonizados pelo grupo quase um mês depois do anúncio da morte em combate do seu líder conhecido, Bonomade Omar, cuja morte foi anunciada em Setembro pelo Governo.
Desde 2017, os ataques terroristas provocaram a morte de cerca de quatro mil pessoas e a fuga de mais de um milhão, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que, no entanto, assegura o regresso de mais da metade dos deslocados às suas áreas de residência. (Voa)
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