Ouvi, há dias, que os professores iriam pendurar as batas nas secretárias, dar costas aos quadros e deixar os alunos metidos em longos intervalos sem aulas. Ouvi que os professores estavam fartos de promessas do Governo, fartos de envelhecer inalando o pó do giz e o pó da injustiça salarial que o Governo lhes atira mensalmente.
Nisso tudo, a Organização Nacional de Professores surgiu na televisão com molhos de discursos de insatisfação e chorava como uma criança que quer mamar. Surgia chorando, mas horas depois ressurgia com as lágrimas secas e acertando um sorriso qualquer. Eu dizia que ouvi há dias que os professores queriam entrar em greve.
A Tabela Salarial Única mexe com a cabeça dos professores, multiplica-lhes a ansiedade sem, no mínimo, subtrair-lhes as incertezas. E até hoje ainda não sei se haverá ou não greve dos professores, a única coisa que sei é que a Organização Nacional de Professores não precisa de nenhuma greve, a ONP é em si uma estrutura já em greve contínua. Um grupo que mesmo unindo todos os seus membros, é incapaz de paralisar uma simples aula.
A ONP mostrou-nos que é uma organização que se move pela energia eólica, uma organização que nem tem uma mínima ideia de organizar uma simples greve. Faz-me muita impressão esta organização, pois os professores que a compõem são os primeiros a exigir disciplina, integridade e clareza em tudo na sala de aulas. Afinal, os meus professores juntos não conseguem conceber uma ideia clara para uma greve?
Sei que sou fruto de professores que fazem parte dessa organização, mas por um momento apetece-me convocá-los a todos, metê-los numa sala e ensiná-los a calcular a equação quadrática de uma greve. Outras organizações de professores, em países tão pobres como o nosso, quando decidem anunciar uma greve é tudo feito dentro de uma filosofia tipicamente de professores: promovem debates, desenham linhas gerais da greve, promovem concentrações em instituições que tutelam a educação, fazem acampamentos e enchem os jornais com artigos bem escritos e incendiários. E a nossa ONP? A nossa ONP chama a televisão, lê um discurso, dia seguinte manda um comunicado remedando o discurso, três dias depois surge o representante moçambicanamente distanciando-se de tudo.
Eu acho que a ONP podia também aceitar alunos como membros, não tenho dúvidas que há alunos capazes que ajudar a organização a sair da greve interna de desorganização em que se encontra. Afinal os professores são uns desorganizados?
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