Hélder Martins diz que a Frelimo abandonou o povo e pede realização de uma Conferência Nacional Abrangente

Hélder Martins diz que a Frelimo abandonou o povo e pede realização de uma Conferência Nacional Abrangente

O antigo ministro da Saúde e, por sinal um dos membros fundadores da Frelimo, Hélder Martins, decidiu levantar a voz, através de uma carta aberta, para tecer duras críticas ao actual estágio do país e, sobretudo, do seu partido, assinalando que os protestos pós-eleitoral vieram expor que a Frelimo abandonou o povo.

Hélder Martins apela no documento dirigido à direcção da Frelimo, a realização de uma Conferência Nacional Abrangente para que, através do diálogo e conversas francas e honestas, se cheguem a consensos políticos, que possam trazer a Paz e o Desenvolvimento Social e Económico em Moçambique.

Segundo Martins, a vários anos em que a Frelimo deixou de se guiar em princípios éticos, dominando assim, no partido no poder em Moçambique, a falta de requisitos para a admissão de membros e de definição de perfis para candidatos a dirigentes desta formação política. Para Hélder Martins, esta situação resultou num processo lento, mas gradual, de infiltração no Partido, por todo o tipo de oportunistas que tomaram postos nos órgãos e na direcção da Frelimo.

“A par disto e talvez como consequência, foram-se abandonando os critérios éticos nas fontes de financiamento do Partido, aceitando-se dinheiro de fontes ilícitas e que, mafiosos sejam tratados com respeito, só porque financiam o Partido. Eu e muitos outros nossos camaradas temos de admitir que por inércia, inacção e complacência da nossa parte, também contribuímos, ficando calados, para que a situação se agravasse deste modo. Portanto, também temos de admitir a nossa quota parte de responsabilidade nesta situação. Como este processo de degradação das estruturas partidárias e da escandalosa situação social, económica e política do país se desenvolveu lenta e insidiosamente e como a mínima crítica passou a ser malvista e reprimida, fomo-nos acomodando e tornámo-nos cúmplices e covardes”, le-se na carta.

O antigo ministro da Saúde aponta que a Frelimo desviou-se do verso do que diz: “Nenhum Tirano nos virá escravizar!” e lamentou o facto dos camaradas terem ignorado as irregularidades que mancharam as Eleições Gerais, Legislativas e das Assembleias Provinciais, sendo que, ao seu ver, o clima que instabilidade que se vive no país deriva da fraude.

“Essa fraude eleitoral é a causa de toda a instabilidade sociopolítica que se seguiu, e se mantém nas principais cidades do País e ela veio expor uma percepção popular, extremamente preocupante, de que “a Frelimo abandonou o Povo”. E é necessário não confundir causas com consequências. A agitação social que vivemos actualmente no nosso país é causada pela fraude eleitoral e tentar atacar as consequências sem ir à raiz do problema, a verdadeira causa, é «política de avestruz», mas não resolve nenhum problema. Por isso, hoje, como sempre, cabe aos militantes e à Direcção, com o apoio de todos os simpatizantes, corrigir o perigoso curso em que o Partido, a Sociedade e o Estado se encontram, de modo a recuperarmos a nossa base social popular”.

“Realização muito URGENTE, duma Conferência Nacional Abrangente, para análise da situação e para que, através do diálogo e conversações francas e honestas, se cheguem a consensos políticos, que possam trazer a Paz e o Desenvolvimento social e económico ao nosso país. Uma tal proposta já foi feita por outros sectores da nossa Sociedade e merece o meu total apoio, pois através dela se espera chegar a um Consenso Nacional Alargado, única forma de atingirmos a Paz Social e o Desenvolvimento. Essa Conferência Nacional Abrangente tem um carácter de EXTREMA URGÊNCIA e não deve esperar pelo veredicto do Conselho Constitucional, que já demonstrou a sua incapacidade para considerar o impacto social, económico e político, das suas decisões, na vida nacional”.

 

(Foto DR)

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