Moçambique deve começar a preparar-se para a transição energética, afirma o consultor em energias renováveis e mudanças climáticas, Manuel Mota, em entrevista ao MZNews. Durante a entrevista, o consultor defendeu a necessidade de descarbonização da economia, afirmando que energias renováveis são o futuro. Mota, diz ainda que os proveitos, ganhos derivado da exploração do gás devem ser utilizados a médio longo prazo para permitir de facto o investimento em energias renováveis.
E neste momento, faz sentido o debate sobre energias renováveis para Moçambique?
Eu acho que faz todo o sentido. Não só para Moçambique, mas em termos de perspectiva global. Portanto, acho que Moçambique deve trabalhar claramente naquilo que é uma adaptação daquilo que tem sido esses fenómenos e ao mesmo tempo deve também trabalhar naquilo que têm sido as mudanças climáticas, essa mitigação passa também pela descarbonização possível da economia.
Portanto, aí voltamos a tocar no tema do gás como potenciador para investimentos em outras energias renováveis e olhamos senão no curto prazo mesmo muito longo prazo. Essa visão de longo prazo que deve imperar independentemente de necessidades imediatas.
Até que ponto a transição energética poderá influenciar o crescimento económico do país?
A partir do momento que Moçambique tenha capacidade de demostrar que a produção de gás, ou produção de eletricidade hidroelétrica ou outras fontes, tem menos intensidade carbónica do que nos outros países, terá uma maior capacidade também de atrair investimentos.
Até que como dizia, muito bem, as entidades que financiam determinadas organizações, querem saber se vai entrar investimentos considerados verdes (…) Ou seja, no fundo vão privilegiar onde há melhores condições em investimentos mais verdes…se trabalhar neste sentido naturalmente terão maior capacidade de atrair investimento internacional em concorrência com outros países sejam em África, seja no resto do mundo.
Quais os factores que são determinantes para que ocorra essa transição energética?
Bom, para já eu acho tem que haver aqui o envolvimento de todos. As organizações da sociedade civil, as comunidades e também do governo, numa perspectiva daquilo que são as suas políticas com respeito a esse tema, de que forma é que vão incentivar ou não, (…) e no fundo, criar um sistema de incentivos ou benefícios para que o investimento de energias renováveis seja de facto um Pólo de uma atração para o país. Portanto, isso fará parte de uma estratégia.
Naturalmente que eu diria que uma parte financiada com a operação de gás, mas eventualmente com o financiamento estrangeiro porque o financiamento em energias verdes hoje em dia atrai de facto não apenas as organizações que trabalham no sector de energias…
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Temos recursos humanos e tecnologia preparada para esta transição energética?
Essa é uma excelente pergunta, porque repare, as grandes ambições aspiracionais e os governos e as grandes organizações…muitas delas são de facto aspiracionais e quando digo aspiracional estou a dizer que muitas vezes não sabem como lá irão conseguir chegar.
Portanto, a inovação vai claramente ter um papel importante em encontrar soluções para se conseguir chegar onde se pretende em termos desses objectivos ou dessas ambições que são aspiracionais. Agora, é importante que numa transição, haja aquilo que se chama de uma transição justa, o que implica muito com as comunidades, as pessoas e competências…
Acho que tem que haver aqui muito investimento em formação. Temos que formar pessoas, técnicos, temos que pôr planos em marcha e tudo isso é uma simbiose de pequenos programas, projectos, iniciativas que tem que acontecer de uma forma paralela, para que efectivamente haja também o envolvimento da comunidade local, isso não é importar tudo, mas é muito importante que se consiga encontrar um espaço, um caminho para que as comunidades locais sejam integradas neste processo.
Como podemos explorar a actividade mineira (que é o que temos) e ao mesmo tempo salvaguardar as questões ambientais?
Essa é uma resposta difícil de dar em curtas palavras, mas obviamente primeiro temos que ter planos e políticas com uma visão de longo prazo de onde é que o país quer estar, aspira chegar. Isso tem de estar claro para todos. Depois temos que perceber que o país não vai lá chegar sozinho.
Há aqui uma vulnerabilidade inerente a um processo que é muito complexo, que vai exigir muita inovação, muita digitalização de processos, se quisermos (…) Temos que perceber que precisamos de ajuda e de envolvimento das várias partes interessadas.
Para descarbonizar uma economia primeiro temos que perceber onde é que as maiores intensidades carbónicas dessa economia provêm (…) É preciso haver naturalmente um levantamento muito cuidado para que se possa actuar de uma forma sistemática e concertada.
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