Os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov, cujo trabalho não alegra os governos filipino e russo, receberam, esta sexta-feira, o Prémio Nobel da Paz 2021, que, segundo o comitê é um endosso aos direitos de liberdade de expressão sob ameaça no mundo todo.
Ressa, que se deparou processos judiciais durante anos nas Filipinas por causa do trabalho do seu website Rappler, disse que o prémio vai ajudar a missão da sua organização.
“Estamos a atravessar um tempo difícil, mas penso que mantemos a linha”, disse, notando que “o que fazemos hoje vai determinar o nosso amanhã”.
Em seguida, Dmitry Muratov dedicou o prémio a seis colegas seus do jornal Novaya Gazeta assassinados por denunciar violações dos direitos humanos e corrupção. Por conseguinte, mencionou os respectivos nomes dos ex-colegas que têm suas fotografias penduradas na sede do jornal, em Moscovo.
De acordo com a presidente do Comité Nobel norueguês, Berit Reiss-Andersen, os laureados demonstraram “coragem na luta pela liberdade de expressão”, nos seus respectivos países.
Na sua perspectiva, eles representam o conjunto de jornalistas que defendem um ideal comum, num mundo onde “a democracia e a liberdade de imprensa se deparam com condições cada vez mais adversas”.
Berit Reiss-Andersen explicou que o jornalismo verdadeiro serve para proteger contra abusos de poder, mentiras e campanhas de guerra.
O primeiro Nobel para Jornalistas em quase um século
O prémio é o primeiro Prémio Nobel da Paz para jornalistas desde que o alemão Carl von Ossietzky o ganhou em 1935. Ele divulgou o programa secreto de rearmamento pós-guerra da Alemanha.
Ressa, 58 anos, é a primeira vencedora de um prémio Nobel em qualquer campo das Filipinas. O site Rappler, que co-fundou em 2012, tornou-se proeminente através de reportagens de investigação, incluindo em matanças em larga escala durante uma campanha policial contra a droga.
Muratov, 59 anos, é o primeiro russo a ganhar o Nobel da Paz desde o líder soviético Mikhail Gorbachev, em 1990. Mais ainda, Gorbachev está há muito associado à Novaya Gazeta. Ele contribuiu com algum dinheiro do seu Prémio Nobel para ajudar a criar o jornal nos primeiros dias pós-soviéticos, quando os russos anteciparam novas liberdades.