Vários sectores da sociedade moçambicana classificam de negócio corrupto e ilegal a atribuição a uma empresa liderada por figuras ligadas a partidos políticos no poder em Moçambique e no Ruanda para prestar serviços de segurança não armada ao acampamento da multinacional francesa TotalEnergies em Afungi, na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
Numa publicação da Voz da América (VOA), alguns avançam que vão litigar contra este negócio que envolve pessoas politicamente expostas. Entretanto, as autoridades moçambicanas dizem que a empresa ISCO Segurança ganhou o concurso porque apresentou a melhor proposta.
“Entendemos que temos que mobilizar a sociedade civil para litigar contra este negócio da guerra, porque é corrupto, ilegal e promotor da instabilidade”, afirmou o director do Centro para a Democracia e Direitos Humanos, Adriano Nuvunga, avançando que “este negócio envolvendo uma empresa ligada ao Presidente ruandês, Paul Kagame, privatiza a paz, que é um bem público”.
Para Nuvunga, “não se promove a solução para o conflito em Cabo Delgado porque a guerra é lucrativa e, sobretudo, não se investe nas Forças Armadas e em soluções para garantir um exército capaz de promover a segurança”.
Na mesma publicação, o analista político Moisés Mabunda considera que “se os moçambicanos querem profissionalismo e um trabalho de qualidade e com padrões internacionais, não me parece que os partidos políticos sejam as entidades certas”.
“Eu esperaria que houvesse o enaltecimento de empresas que prestam serviços de muita qualidade e essas empresas seriam aquelas que estariam a defender os projectos económicos que estamos a desenvolver”, assinala Mabunda.
Enquanto isso, o investigador João Feijó afirma que se está a fazer grande celeuma à volta dos ruandeses, “o que não deixa de ser relevante, mas isso é também usado como arma de arremesso político contra o Governo e, sobretudo contra o Presidente Nyusi, já no fim de mandato”.
Alinhando na mesma ideia, o analista político, Dias da Cunha, sublinha que “o grande problema neste negócio é que não é transparente, não se sabe absolutamente nada sobre quem comanda as operações nessa joint venture, este negócio devia ser proibido”.
Entretanto, a Frelimo, partido no poder, assume que Yaqub Ossmane e o seu filho, referidos como fazendo parte da empresa que se juntou à ruandesa, são membros do partido, explicando, no entanto, que a empresa deles não pertence à Frelimo.
“Eles são empresários e o mercado está aberto para qualquer empresário e a Isco Segurança por ter apresentado a melhor proposta, ganhou o concurso e isso nem foi contestado por nenhuma outra empresa concorrente’’, conclui Osvaldo Castiano, da Frelimo.
A companhia Isco Segurança é uma joint venture entre a Isco Global Limited do Ruanda e uma companhia moçambicana, não identificada pela publicação, que afirma que a Isco Global controla 70% da Isco Segurança, que fornece segurança não armada ao projecto.
A TotalEnergies confirmou a selecção da companhia para fornecer segurança depois de “um processo rigoroso de concurso”.
A Isco Global pertence à companhia Intersec Security Company que é, por seu turno, uma subsidiária da Crystal Ventures, uma companhia de investimentos fundada pelo partido no poder no Ruanda, cujo director é o antigo dirigente do Fundo Soberano do Ruanda, Jack Kyonga.
(Foto DR)
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