A magistrada do Ministério Público, Ana Sheila Marrengula, repudiou, esta quinta-feira, o “roubo” financeiro cometido por, pelo menos, 19 arguidos do principal processo das Dívidas Ocultas.
Falando durante o primeiro dia das alegacões finais orais, Marrengula considerou de “asqueroso” o “roubo” cometido pelos réus, e que lesou o Estado moçambicano em, pelo menos, 2,7 mil milhões de dólares, tornado o caso no maior calote financeiro de Moçambique.
“A história irá encarregar-se de captar a dimensão real e exata dos custos económicos, políticos e sociais deste asqueroso roubo aos moçambicanos”, disse.
A magistrada assinalou que durante a instrução preparatória, instrução contraditória e julgamento ficou demonstrado que os arguidos tiveram uma “comparticipação criminosa” para defraudar o Estado moçambicano em 2,7 mil milhões de dólares
“É facto assente que este rombo [financeiro] traduziu-se em danos extremamente gravosos nas finanças dos moçambicanos e na reputação do país nos mercados internacionais”, enfatizou, a representante do Ministério Público, que esteve a ler ao longo de 10 horas.
Essencialmente, nas suas alegações finais, o Ministério Público reiterou o conteúdo da acusação, insistindo que as empresas estatais ProIndicus, Empresa Moçambicana de Atum (Ematum) e a Mozambique Asset Management (MAM) foram criadas com o único propósito de drenarem o dinheiro que alimentou o gigantesco esquema de corrupção de moçambicanos e estrangeiros e não para projectos de segurança marítima e pesca.
“As três empresas não funcionaram e não geraram receitas, mas sim enormes prejuízos e encargos para si e para o Estado”, destacou.
Para justificarem a criação das três firmas, prosseguiu Sheila Marrengula, os principais arguidos no processo elaboraram estudos de viabilidade desajustados da realidade dos setores de atividade em que iriam pretensamente atuar.
Por outro lado, os arguidos agiram em conluio com o grupo de estaleiros navais Privinvest, com sede no Dubai, assinando contratos de fornecimento de bens e serviços que serviram para dissimular o propósito fraudulento dos negócios.
O Ministério Público visou de modo mais severo Ndambi Guebuza, arguido e filho mais velho de Armando Guebuza, Presidente da República à altura da contracção dos empréstimos, por ter recebido 33 milhões de dólares para levar à aprovação do pai o projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva (ZEE) que serviu de pretexto para a mobilização dos empréstimos.
Acusando Ndmbi Guebuza de “tráfico de influências e parceria criminosa”, o Ministério Público descreveu a actuação do arguido durante o julgamento como sendo de “arrogância, falta de respeito e desprezo”.
Ndambi Guebuza “bateu o recorde de perguntas não respondidas” durante o seu interrogatório em tribunal, observou a magistrada do Ministério Público.
Também António Carlos do Rosário, arguido e ex-presidente das três empresas do “calote”, foi duramente criticado pelo Ministério Público, que o acusou de protagonizar “zaragata” e “desprezo” ao longo da sua audição.
O Ministério Público leu as alegações finais referentes ao libelo acusatório de cinco dos 19 arguidos, nomeadamente Nbambi Guebuza, António Carlos do Rosário, Cipriano Mutota, antigo quadro dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), os serviços secretos moçambicanos, Teófilo Nhangumele, um consultor e gestor independente considerado pela acusação como um dos cérebros do esquema, e Bruno Langa, amigo do filho mais velho de Armando Guebuza.
O Ministério Público continua hoje a leitura das alegações finais contra os outros 14 arguidos, ao que depois se vai passar à intervenção dos advogados de defesa.
Fonte: visão