Kagame avisa a África do Sul que o Ruanda está preparado para o confronto, se necessário

Kagame avisa a África do Sul que o Ruanda está preparado para o confronto, se necessário

O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, lançou um aviso severo à África do Sul na noite de quarta-feira, acusando o Presidente Cyril Ramaphosa e o seu Governo de distorcerem os factos sobre o conflito em curso no leste da República Democrática do Congo (RDC) e sugerindo que o Ruanda está preparado para o confronto, se necessário.

“O que foi dito sobre [as conversas que tive com Ramaphosa esta semana] nos meios de comunicação social por funcionários sul-africanos e pelo próprio Presidente Ramaphosa contém muita distorção, ataques deliberados e até mentiras.

“Se as palavras podem mudar tanto de uma conversa para uma declaração pública, isso diz muito sobre a forma como estas questões muito importantes estão a ser geridas”, disse Kagame numa publicação na sua conta X, em resposta à declaração publicada por Ramaphosa.

Segundo uma publicação do jornal sul-africano, The Mail & Guardian, a declaração de Ramaphosa surge na sequência da morte de 13 soldados sul-africanos destacados no âmbito da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral na República Democrática do Congo (SAMIDRC).

A morte dos soldados sul-africanos intensificou o escrutínio político e militar em Pretória, obrigando o Governo a justificar a sua intervenção no conflito que dura há décadas, ao mesmo tempo que mantém relações cada vez mais tensas com o Ruanda.

As autoridades sul-africanas atribuíram a culpa da escalada de violência ao grupo rebelde M23 e às Forças de Defesa do Ruanda.

O ministro das Relações Internacionais, Ronald Lamola, afirmou que a África do Sul está a colaborar com o Conselho de Paz e Segurança da União Africana e com o Conselho de Segurança das Nações Unidas para pressionar por “um cessar-fogo imediato”.

Contudo, Kagame rejeitou o envolvimento da África do Sul na manutenção da paz, afirmando que a SAMIDRC não era uma missão de manutenção da paz, mas sim uma “força beligerante” que apoiava o Governo congolês.

Kagame acusou a SAMIDRC de trabalhar ao lado das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR), uma milícia com ligações históricas aos autores do genocídio ruandês de 1994.

A FDLR tinha o Ruanda como alvo, disse Kagame, “ao mesmo tempo que ameaçava levar a guerra contra o próprio Ruanda”.

O Presidente ruandês acusou, igualmente, a SAMIDRC de estar a substituir a Força Regional da Comunidade da África Oriental, que caracterizou como a única operação legítima de manutenção da paz na região.

“O Presidente Ramaphosa nunca deu um ‘aviso’ de qualquer tipo, a menos que tenha sido proferido na sua língua local, que eu não entendo”, disse Kagame na sua declaração, abordando a noção de que tinha sido advertido pelo seu homólogo sul-africano.

Em vez disso, Kagame afirmou que Ramaphosa tinha solicitado assistência logística para garantir que as tropas sul-africanas tivessem eletricidade, alimentos e água, o que o Ruanda ajudaria a facilitar.

Kagame disse que Ramaphosa tinha reconhecido pessoalmente que o M23 não era responsável pela morte dos soldados sul-africanos, mas sim das Forças Armadas da RDC (FARDC).

“Se a África do Sul quer contribuir para soluções pacíficas, isso é muito bom, mas a África do Sul não está em posição de assumir o papel de pacificador ou mediador. E se a África do Sul preferir o confronto, o Ruanda tratará do assunto nesse contexto a qualquer momento.”

Não obstante, Ramaphosa já tinha dito que os combates eram o resultado de “uma escalada do grupo rebelde M23 e das milícias das Forças de Defesa do Ruanda, que se envolveram com as Forças Armadas da RDC e atacaram as forças de manutenção da paz da Missão da SADC”.

Ramaphosa afirmou que a presença militar da África do Sul na RDC faz parte de um esforço regional e internacional de manutenção da paz.

 

(Foto DR)

Partilhar este artigo

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.