Hipertensão amortece actividade cognitiva mesmo antes de AVC

Doentes com hipertensão e diabetes têm a articulação entre neurónios e microvasos sanguíneos mais lenta, mesmo antes de terem lesões cerebrais ou Acidente Vascular Cerebral (AVC), de acordo com Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Portugal.

Um das coordenadoras do trabalho disse que a actividade neurológica poder ser afectada e ocorrer a uma velocidade mais reduzida “preguiçosa, lenta e menos intensa” nos pacientes mesmo “antes de terem lesões cerebrais, demência vascular e AVC”. Esse défice ou disfunção significativa na articulação é detectável ainda sem existência de quaisquer sintomas da doença cerebrovascular.

Elsa Azevedo, investigadora norte-americana, referiu que a conexão entre a actividade neuronal e a resposta vascular é essencial para garantir o normal funcionamento do cérebro.

“Normalmente, é necessário aumentar o aporte de sangue às zonas cerebrais que se encontram mais activas em determinado momento e isso é conseguido pelo mecanismo fisiológico do acoplamento neurovascular, isto é, de articulação entre os neurónios e os vasos sanguíneos que os suprem”, explicou.

A descoberta é “promissora”, porem, a investigadora mantém alguma reserva pois serão necessários mais estudos antes da sua utilização por rotina na prática clínica.

“O objectivo é ir mais atrás e entender o que está na origem dessa lesão cerebral para se poder corrigir e prevenir os AVC”, ressalvou.

No estudo, participaram doentes com hipertensão que nunca tiveram AVC, tendo os mesmos sidos sujeitos a exames não invasivos de imagem, nomeadamente Doppler transcraniano para análise dos principais mecanismos reguladores da vasorreactividade cerebral e a ressonância magnética para avaliação do volume de lesões de substância branca no cérebro.

O Doppler é um teste não invasivo que permite estimar o fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos mediante o recurso a ultrassons que incidem sobre as células do sangue.

Durante a estimulação visual, os investigadores verificaram que os doentes hipertensos apresentam menor aceleração na velocidade do fluxo sanguíneo na artéria que irriga o córtex visual, apresentando uma resposta mais lenta face ao aumento das necessidades originadas pelo estímulo, bem como uma menor flexibilidade na resposta, quando comparados com pessoas saudáveis, sem hipertensão arterial, afirmou a investigadora.

Já em doentes com hipertensão e diabetes, os resultados obtidos foram ainda piores, o que aponta para défices precoces do acoplamento neurovascular, anteriores ao aparecimento de sintomas de doença cerebrovascular”, acrescentou.

Assim, o estudo mostra que doenças como a hipertensão e a diabetes podem afectar negativamente o cérebro antes mesmo do aparecimento de doenças cerebrovasculares, como o AVC ou alterações cognitivas.

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