O continente europeu poderá lidar com negativas e graves consequências caso tente cortar o fornecimento do gás russo, considerando ainda não ter alternativas capazes de suprir as suas necessidades de abastecimento, disse o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
“Um substituto razoável para a Europa simplesmente não existe”, disse Putin, na quinta-feira (13), na abertura de um discurso televisivo relativo a uma reunião sobre os actuais desafios para as empresas energéticas russas.
“Simplesmente não existem volumes de reserva no mercado internacional, e os fornecimentos de outros países, principalmente dos EUA, que podem ser enviados para a Europa, vão custar muito mais caros aos consumidores”, frisou.
Estas declarações de Putin surgem num período em que os governos europeus começam a debater a exigência de Putin para os compradores de gás russo começarem a pagar em Rublos, moeda russa. Caso esses países não cumpram com o novo protocolo de Moscovo arriscam-se a ver os fornecimentos cortados, como avisou Putin no início do mês.
A Comissão Europeia afirmou que a mudança para a moeda russa violaria as sanções impostas a Moscovo na sequência da invasão da Ucrânia. As empresas têm apenas semanas para decidir o que fazer: o decreto aplica-se às entregas de Abril, e a maioria desses pagamentos termina em Maio.
Na reunião de quinta-feira, Putin disse que o seu Governo vê “problemas com pagamentos para fornecimentos de energia de exportação russos, uma vez que os bancos dos Estados não amigos atrasam as transferências de dinheiro”, sem avançar mais detalhes, mas destacando que aos poucos a Rússia vai deixar, por si própria, de depender dos compradores de energia ocidentais.
“Assumiremos que, num futuro previsível, o fornecimento de energia ao Ocidente estará a diminuir”, disse Putin. “É por isso que é importante solidificar a tendência dos últimos anos, e redireccionar passo a passo as nossas exportações para os mercados em rápido crescimento do Sul e do Leste”.
Nas suas observações finais, Putin apelou à expansão das redes de exportação de petróleo e gás da Rússia e ao aumento da capacidade dos portos petrolíferos do Árctico e do Pacífico. Ordenou ao governo que preparasse um plano para a construção das infra-estruturas adicionais até 1 de Junho.
Está a acontecer agora alguma reorientação dos volumes russos no mercado petrolífero. Muitos dos principais compradores recusam-se a aceitar as cargas russas ou comprometeram-se a não aceitar uma vez expirados os seus contratos. Ainda assim, a Rússia tem conseguido enviar alguns dos fluxos de petróleo para a Ásia, atraindo compradores com profundos descontos.
Redireccionar os fluxos de gás natural russo da Europa para a Ásia não é possível porque os sistemas de oleodutos que ligam o leste e o oeste do país operam independentemente. A Gazprom PJSC está a considerar a construção de um interconector se assinar um terceiro contrato de fornecimento com a China.