“Empresa envolvida em lavagem de dinheiro facturou mais de 300 milhões em contratos com Estado” – CIP

“Empresa envolvida em lavagem de dinheiro facturou mais de 300 milhões em contratos com Estado” – CIP

Um estudo divulgado hoje, domingo (04), pelo Centro de Integridade Pública (CIP), organização não-governamental (ONG) moçambicana, a Zohra Group, um grupo empresarial suspeito de envolvimento em branqueamento de capitais, e cujas instalações foram recentemente alvo de buscas ordenadas pelo Ministério Público, ganhou, nos últimos quatro anos, milhões de meticais em contratos de fornecimento de bens e serviços a entidades públicas na província de Tete, centro do país.

Numa documento divulgado no seu portal, a ONG revela que, os serviços de Representação do Estado de Tete bem como o Conselho Autárquico de Tete foram os principais clientes da Zohra Holding.

“Nos últimos quatro anos (2019-2023) a holding, denominada Zohra Group, SA, arrecadou mais de 300 milhões de meticais em adjudicações de entidades públicas só na província de Tete. Zuneid Esmael Amad Abdul Satar é o sócio maioritário/único da Zohra Group e Paulo Auade, antigo governador da província é o administrador da empresa”, refere a análise, salientando que a holding foi constituída formalmente em 2016, até 2019, era uma empresa sem grande expressão.

Mais adiante, a publicação assinala que até 2019, o grupo possuía instalações modestas situadas no bairro Samora Machel, na cidade de Tete e tinha como principal actividade a reparação de automóveis. No entanto, “a holding passou a registar um crescimento gigantesco, através de fornecimento de viaturas e serviços de aluguer e reparação de veículos para o Estado, tendo a partir daí ampliado as suas instalações em Tete e, expandido para outras capitais provinciais, nomeadamente Pemba e Beira; e alargado investimentos para o sector mineiro, imobiliário, de venda de combustíveis, entre outro.

“As razões por detrás dessa rápida ascensão permanecem ocultas ao público. No entanto, documentos consultados durante a pesquisa revelam que pouco antes de registar esse crescimento meteórico, a holding associou-se a figuras politicamente expostas e, nesse mesmo período, injectou um capital orçado em 320 milhões de meticais, cuja origem não foi possível rastrear”, enfatiza o CIP, sustentando que documentos mostram ainda que, desde lá a essa parte, o grupo empresarial posicionou-se como um dos maiores fornecedores ao Estado na província de Tete, beneficiando de tratamento preferencial nas adjudicações de empresas públicas e demais entidades do Estado, com destaque para os Serviços Provinciais de Representação do Estado e Autarquia de Tete.

Estas instituições, segundo o CIP, “gastaram, entre 2020 e 2023, cada uma perto de 100 milhões de meticais em adjudicações a favor do grupo empresarial”.

Para o CIP, a ausência de um escrutínio público efectivo sobre os beneficiários efectivos das sociedades comerciais que realizam negócios com o Estado pode ter criado condições para que pessoas politicamente expostas, associadas ao grupo empresarial suspeito de branqueamento de capitais, tenham abusado da sua influência para obter vantagens em contratos públicos e realizar uma série de negócios questionáveis sem deixar rastros do seu envolvimento.

O grupo é suspeito de envolvimento em esquemas de branqueamento de capitais, sendo que a 07 de Junho de 2024, os escritórios da empresa em Tete foram alvos de buscas e apreensões por parte de agentes do SERNIC e oficiais da Procuradoria-Geral da República, no âmbito da operação Stop Branqueamento de Capitais, levada a cabo pelo Gabinete Central de Combate à Criminalidade Organizada e Transnacional. O sócio registado da empresa, Zuneid Satar, foi detido na ocasião, passando a constar de uma lista de sete empresários já arrolados na operação.

 

(Foto DR)

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