Os amigos Hassan Tibwa e Sami al-Gada, de 23 e 25 anos, salvaram funcionários da ONU, professores e outras pessoas, que os descrevem como “heróis”. De acordo com os registos obtidos pelo New York Times, Hassan Tibwa e Sami al-Gada salvaram, pelo menos, 60 pessoas.
Os dois estudantes em Cartum, no Sudão, quando os conflitos entre as forças armadas na luta pelo poder rebentaram, o mês passado.
Os jovens tornaram-se amigos num curso de engenharia até que se viram obrigados a ficar trancados no seu apartamento se desenrolava nas ruas da capital sudanesa. Apesar de serem estudantes, Tibwa conduzia também um táxi. Nos primeiros dias da revolta, o jovem recebeu uma chamada inesperada – alguém precisava de um.
Acontece que a mulher, de 40 anos, era uma trabalhadora da Organização das Nações Unidas (ONU) que estava no seu apartamento, já sem água, e com menos de 5% de bateria no seu telemóvel. “Ele estava a gritar”, explicou Tibwa, que é natural da Tanzânia, ao New York Times. “Tínhamos apenas alguns minutos antes de o telemóvel se desligar. Ela estava por conta própria”, rematou.
Os amigos decidiram arriscar e percorrer a cidade até à zona residencial, tendo demorado, de acordo com o New York Times, uma hora a percorrer pouco mais de seis quilómetros.
Entre postos controlados pelas Forças de Apoio Rápido (FAR), que combatem com o exército sudanês pelo controlo do país, viram edifícios cheios de buracos de balas, carros carbonizados e combatentes por toda a parte. As FAR questionaram-nos e passaram a limpo os sues telefones, mas deixaram-nos seguir.
Encontraram a mulher, Patiente, sozinha no seu apartamento. Estava escondida na casa de banho há dias, dado que as balas atravessaram a sua sala de estar, algo que lhes mostrou. De acordo com o que os amigos explicaram à publicação norte-americana, fingiram que Patiente estava grávida e que precisava de ajuda, por forma a conseguirem levá-la até ao Al Salam, um dos mais prestigiados hotéis da capital sudanesa, que agora serve para acolher pessoas.
Já em segurança, Patiente perguntou-lhes se podiam repetir a proeza e salvar alguns dos seus amigos. Segundo mensagens recolhidas pelo New York Times, os jovens salvaram, pelo menos, 60 pessoas – entre professores da África do Sul, diplomatas do Ruanda, e funcionários da ONU vindos de vários países, incluindo Quénia, Zimbabué, Suécia e Estados Unidos.
A publicação conta que dez passageiros explicaram que os jovens acudiram-nos em momentos assustadores e em que corriam perigo de vida, quando a organizações com condutores e seguranças não estavam a resgatá-los.
“A única palavra para eles é heróis”, considerou um funcionário da ONU, que, tal como a maioria destes trabalhadores, falou apenas sob a condição de não ser identificado, por forma a evitar críticas às organizações a quem pertencem, já que muitas falharam nas missões de salvamento dos seus funcionários.
Apesar das dezenas de resgates, houve momentos em que temeram pelas suas vidas já que, num dos postos, um dos combatentes ameaçou alvejar um funcionário da ONU vindo da Malásia. “O combatente das FAR engatilhou a arma”, contou uma das testemunhas que seguia nesse carro, referindo que tremia nesse momento. “Quando ouvi aquele barulho, pensei que ele estava morto”, confessou.
Para além das viagens de resgate, houve também viagens que serviram para algumas pessoas irem buscar os seus passaportes, por forma a saírem do país.
Fares Hadi, um algeriano que se encontrava no hotel na altura em que os conflitos começaram – e por lá ficou – referiu que os rapazes o ajudaram a recuperar o documento. Mas foi, mais uma vez, num posto de controlo que a situação se complicou. Combatentes acharam algo suspeito no telemóvel do rapaz mais novo, Sami al-Gada e, de repente, o jovem estava rodeado de homens que lhe apontavam uma AK-47, também conhecida por Kalashnikov.
Hadi, que estava no lugar de trás, esperou o pior. “Estava à espera de que pedaços do seu cérebro chegassem à minha cara”, explicou, acrescentando que depois de 15 minutos de conversa, os combatentes recuaram. “Ele estava aterrorizado”, contou o homem, notando ainda que o jovem “suava por todos os lados”.
“A coragem destes rapazes é incrível”, explicou o algeriano. “Tão impressionante, que coragem”, contou ao New York Times.
Todas as pessoas com quem a publicação norte-americana falou revelaram que em momento algum os jovens pediram que lhes pagassem por estas boleias, que acabaram por salvar dezenas de vidas.
Enquanto al-Gada, que é sudanês, ermaneceu no país, Tibwa partiu para a Etiópia de autocarro na quarta-feira. É no país que vai regressar a casa.
Fonte: New York Times
Deixe uma resposta