A directora executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu nesta terça-feira os mercados de carbono como essenciais para combater as alterações climáticas e disse que, sem este mecanismo, a descarbornização não será suficientemente rápida.
“Sem um mercado de carbono justo e a funcionar correctamente, a descarbonização não vai acontecer suficientemente depressa, por isso temos de incentivar este modelo, já que a própria Mãe Natureza está a ajudar-nos, porque os países ricos e os pobres já estão a sentir na pele a devastadora força das alterações climáticas”, disse Kristalina Georgieva numa entrevista à CNBC, à margem da conferência das Nações Unidas sobre o ambiente, a COP28, que terminou ontem, no Dubai.
O mercado de carbono é um mecanismo internacional que permite que os países ou empresas mais poluentes possam exceder as metas acordadas no Acordo de Quioto, mediante a compra de uma licença emitida por países que poluem menos do que o limite a que se comprometeram no âmbito desse acordo, ou que lançam projectos que compensam as emissões de outro país ou empresa.
O FMI aumentou recentemente a previsão de preço desta licença para emitir, passando de 75 para 85 dólares por tonelada, mas até agora o preço tem sido apenas de 20 dólares por tonelada, o que mostra que este mercado está ainda a dar os primeiros passos.
Para a líder do Fundo, a COP28 foi uma boa oportunidade para os países avaliarem as políticas que incentivam o uso de combustíveis fósseis, nomeadamente os subsídios para carvão, petróleo e gás, que chegaram aos 1,3 biliões de dólares, no ano passado.
“Temos de acabar com isto, de forma gradual, e substituir por outros incentivos, como colocar um preço na descarbonização; quero dizer a toda a gente que esteja disposta a ouvir-me que a fixação de preços do carbono funciona”, disse Georgieva, exemplificando com a União Europeia, que através do Sistema de Comércio de Emissões registou “não só uma rápida redução das emissões, mas também um aumento das receitas, para 175 mil milhões de euros”.
Para além da redução das emissões e do aumento das receitas, o aprofundamento do mercado de carbono “também é justo, porque quem mais polui, mais paga, e quanto menos alguém polui, menos paga, e muitos países podem ganhar algum dinheiro e reinvestir nas pessoas mais vulneráveis”, argumentou Georgieva na entrevista ao jornalista Dan Murphy, da CNBC.
Moçambique foi um dos países que já entrou neste mercado, tendo levado 45 milhões de créditos de carbono para a COP28, segundo anunciou o Presidente, Filipe Nyusi, num discurso no Dubai onde lembrou que logo em 2018 o país viu 1,9 milhões de créditos certificados para comercialização.
Entretanto, questionada sobre o papel das empresas de petróleo e gás e sobre como convencer estas companhias a adoptarem o mecanismo de fixação de preços do carbono, Georgieva respondeu: “Uma das boas notícias da COP foi o compromisso de triplicar a energia renovável nos próximos anos, e penso que a indústria do petróleo e gás já percebeu o que aí vem; vemos muitos países produtores de petróleo a diversificarem-se muito rapidamente e vemos também um investimento proveniente do dinheiro gerado com a migração do petróleo para as renováveis em grande escala”.
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