As indústrias processadoras da castanha de caju na província de Nampula não conseguem absorver mais de 30 mil toneladas desta cultura de rendimento, por falta de capacidade, o que abre espaço à exportação em bruto, com todos os prejuízos que acarreta para a cadeia de valor.
Segundo o jornal Notícias, dados indicam que a província de Nampula produziu 80 mil toneladas da castanha de caju, na campanha 2021/2022, mas as indústrias de processamento absorveram uma quantidade de 50 mil toneladas.
Para evitar que o produto permaneça nas mãos dos produtores, predominantemente do sector familiar, e gerar prejuízos enormes, o governo está a encetar diligências, no sentido de que as mais de 30 mil toneladas sejam exportadas para o mercado internacional, com destaque para a Índia, China, Japão, entre outros países.
As autoridades, porém, incentivam os empresários a investir no sub-sector do caju para aumentar a capacidade de processamento, como forma de absorver toda a matéria-prima, multiplicando-se, desta forma, os ganhos, dentre os quais a criação de postos de trabalho e oportunidades de auto-emprego.
Na província de Nampula existem mais de 400 mil famílias produtoras da castanha de caju, das quais 100 mil são assistidas em actividades de pulverização, distribuição de pesticidas e outros materiais.
Na campanha agrícola 2021/2022, a comercialização permitirá a arrecadação de mais de três mil milhões de meticais para os produtores.
O valor serve para melhorar a dieta alimentar, aquisição de material escolar para os filhos, melhorar a habitação e custear outras necessidades básicas.
José Castigo, de 56 anos de idade, residente na sede do posto administrativo de Namialo, distrito de Meconta, é exemplo de um produtor focado. Possui cinco filhos, todos a estudar, dois dos quais no ensino superior.
De acordo com as suas palavras, todas as despesas relacionadas com a formação dos filhos, incluindo alimentação e outras necessidades básicas da família, são supridas graças aos rendimentos que provém do negócio da castanha de caju.
Castigo produz castanha de caju há mais de 40 anos, numa parcela estimada em cinco hectares. A casa onde mora a família de Castigo é coberta de chapas de zinco e, neste momento, perspectiva iniciar outra obra. Contudo, considera que o rendimento seria maior, se as indústrias tivessem maior capacidade de processar toda a castanha, aproveitando os seus.
Não há dinheiro para investir
Os industriais do caju não têm dinheiro para investir, de modo a absorverem toda a produção. É que o próprio negócio se tornou insustentável, devido a vários factores, desde o confinamento na sequência da pandemia da Covid-19, a crise financeira internacional e a depreciação do Metical em relação às principais moedas de transacção.
Por essas e outras razões, os empresários não conseguiram comprar a castanha produzida na campanha 2021/2022. Na verdade, as dificuldades começaram a surgir em 2018, período em que as fábricas começaram a acumular prejuízos, do ponto de vista de custos, sujeitando os gestores a dificuldades de exportar o produto para o mercado internacional.
A Covid-19 forçou os principais compradores a encerrar as suas fronteiras, para evitar riscos de contaminação e propagação da doença. Não foram criadas alternativas para superar o desafio, sendo que as indústrias limitaram-se em esperar pelo fim da doença ou das medidas restritivas.
A Associação dos Industriais de Caju (AICAJU) precisa fazer um levantamento para apurar as quantidades da castanha de caju que, ainda, está nos armazéns. Porém, o certo é que procura-se por compradores do produto que já foi processado. É uma situação que está a ter implicações sobre a qualidade da amêndoa.
Entretanto, a Índia é o principal mercado, e os compradores daquele país aumentaram a taxa de importação da amêndoa partida, de 45 para cerca de 70 por cento. A situação levou ao inflacionamento do preço de compra da matéria-prima interna, o que tornou difícil concorrer com os outros intervenientes estrangeiros.