McKinsey lança relatório sobre transformação económica necessária para atingir descarbonização em 2050

Se, de um lado, implicaria um aumento anual de 3,5 biliões de dólares em gastos de capital em activos físicos, de outro, permitiria um saldo de 15 milhões novos empregos directos e indirectos, entre os que iriam ser gerados e os que iriam ser perdidos.

Estes são exemplos de quanto pode custar e valer a transformação económica necessária para que o mundo atinja a meta de zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, de acordo com um estudo publicado esta terça-feira pela McKinsey & Company.

De acordo com o jornal Negócios, uma das principais conclusões do relatório é o de que “a transição seria universal”, ou seja, “todos os setores económicos e países seriam afectados à medida que são revistos todos os sistemas de energia e de uso da terra que sustentam as economias e que são responsáveis por gerar emissões”.

E, neste contexto, que a escala da transformação económica seria “significativa”. “Os gastos de capital em ativos físicos totalizariam cerca de 275 biliões de dólares até 2050 – aproximadamente 9,2 biliões de dólares por ano – ou um aumento de 3,5 biliões nos gastos anuais que são hoje feitos, à medida que diminuem as actividades responsáveis por emissões elevadas e aumentam as atividades com emissões mais baixas”. Existiria, no entanto, uma mudança de paradigma: “Por exemplo, hoje 65% dos gastos com energia e terra vão para produtos responsáveis por um elevado nível de emissões”, sendo que, no futuro, 70% iriam para produtos com baixas emissões e as infraestruturas necessárias, revertendo a tendência actual”.

O relatório, com mais de 200 páginas, antecipa ainda a possibilidade de a transição para um cenário de zero emissões líquidas carecer de uma “redistribuição massiva da mão-de-obra” que resultaria, por um lado, em “cerca de 200 milhões de empregos directos e indirectos gerados” e, por outro, “em 185 milhões perdidos até 2050”.

Para alcançar a descarbonização até essa data, a McKinsey & Company estima também que seria preciso antecipar as mudanças, com a próxima década a mostrar-se “decisiva”. Assim, sinaliza, “os gastos, que hoje rondam os 6,8% do PIB, aumentariam para 8,8% entre 2026 e 2030, antes de diminuírem”, ao passo que os custos de produção de electricidade aumentariam de imediato, mas cairiam depois de atingirem o pico”.

A consultora adverte, porém, que “o impacto da transição seria sentido de forma desigual entre sectores, países e comunidades”. “Os mais expostos seriam os setores com produtos ou operações com elevados níveis de emissões; países com rendimentos mais baixos ‘per capita’ e aqueles com grandes recursos de combustíveis fósseis; e comunidades cujas economias locais dependem de sectores expostos”, refere a consultora, apontando que correspondem actualmente a cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

Já outros 10% do PIB estão em sectores cujas cadeias de fornecimento têm emissões elevadas, como, por exemplo, a construção, diz a McKinsey & Company. A consultora observa ainda que “famílias com rendimentos mais baixos por todo o mundo poderão ser mais afectadas”. Não só “pelo aumento do custo da electricidade a curto prazo”, mas também “pelos custos relacionados com o capital que possam vir a necessitar para aquisição de produtos com emissões mais reduzidas, como novos aquecedores ou carros eléctricos”.

A consultora alerta, no entanto, que, “a transição acarreta riscos se não for bem gerida, inclusive de escassez de energia e de aumento de preços”. “Se não for feita a tempo ou ocorrer de forma abrupta, a transição aumenta o risco de ativos estagnados e de deslocalização de trabalhadores”. Ainda assim, ressalva, “os resultados seriam muito piores sem nenhuma medida: alcançar zero emissões líquidas e limitar o aquecimento a 1,5 °C evitaria os impactos mais catastróficos das alterações climáticas”.

“Os riscos a curto prazo de uma transição mal pensada não podem ser ignorados”, alerta Bruno Esgallhado, sócio da McKinsey e líder para a área da sustentabilidade na Península Ibérica, citado no mesmo comunicado enviado às redacções. “A transição económica para alcançar zero emissões líquidas será complexa e desafiadora, mas é necessária. A questão agora é se o mundo pode agir com ousadia e aumentar a resposta e o investimento necessários na próxima década”, enfatiza.

Para a McKinsey, mesmo apesar de os impactos serem distribuídos de “forma desigual, “uma transição ordenada oferece oportunidades de crescimento e benefícios duradouros que vão para além da descarbonização”, além de que “pagaria dividendos, incluindo o potencial para uma descida a longo prazo nos custos de energia, melhores resultados para a saúde e para a conservação do capital natural”.

“As áreas de crescimento poderiam ser operações mais eficientes com base na descarbonização e a criação de novos mercados para produtos de baixa emissão de carbono”, elenca a consultora, na mesma nota que acompanha o estudo.

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