A actividade mineira de carvão mineral no distrito de Moatize, província de Tete, está a reduzir a produção de culturas nos campos agrícolas nos arredores dos projectos, revela um relatório publicado pelo Observatório do Meio Rural (OMR).
“Antes de as mineradoras chegarem, produzíamos muito… Agora já não. Não se importam connosco. Nem vale a pena reclamar”, dizem os agricultores citados no trabalho verificado hoje pelo MZNews, e que analisa o impacto da produção mineira entre em Moatize entre 2011 e 2022.
“Analisando os dados obtidos nos inquéritos referentes à prática agrícola dos Agregados Familiares (AFs), nota-se que 90% praticava agricultura antes de 2011 e apenas 64% pratica em 2022. Dos AFs cujos rendimentos anuais totais reduziram, 22% mencionaram ter deixado de produzir pelo menos uma das culturas agrícolas que produzia antes de 2011 e 26% mencionou ter perdido a sua terra agrícola para a mineração”, lê-se.
Por exemplo, a população que produzia milho reduziu 23%, de 87,1% antes de 2011 para 64,5% em 2022. Outras culturas que registaram redução são o feijão nhemba e a mapira (13% cada), o tomate, o pepino e as verduras (10% cada), o quiabo e o amendoim (8% cada) e o feijão bóer (2%).
O estudo constatou que a produção agrícola em Moatize teve maior descalabro no ano passado, relativamente aos anos anteriores a 2011, quando foi inaugurando o complexo da mineradora Vale para a extracção de carvão mineral em grande escala, para uma produção 11,3 milhões de toneladas anuais até 2046. Leia mais…
Os dados do estudo indicam que 30% das famílias que viram seus rendimentos baixar com a chegada das mineradoras praticam a agricultura. “De facto, enquanto os rendimentos anuais por trabalho assalariado aumentavam em 28% no período de 2011 a 2022, os rendimentos originados da produção de culturas agrícolas reduziam em 21%, neste mesmo período”.
Além disso, cerca de 47% dos agricultores de 2022 notou uma redução na qualidade e no volume da sua produção agrícola; 18% verificou melhorias devido ao uso de insumos, e 37% não notou diferença.
Sem confirmar as hipóteses, o estudo avança que a actividade de extracção mineira impactou negativamente a qualidade dos solos, pois, revelaram, – além da escassez de água nos solos, e excesso de poeiras – contaminação com minérios como o cobre, o crómio, o ferro, o manganês e o zinco. No entanto, são possibilidades “padrão” confirmadas em outros estudos em países onde ocorre a mineração de carvão mineral como o Bangladesh e Brasil.
A quantidade desses metais encontrados nos solos é superior a recomendada pela FAO, diz o estudo, notando, por outro lado, a sua ocorrência natural, ou seja, sem necessária influência da mineração.
“Em consequência da poluição por estas substâncias, podem ser observados impactos na produção de diferentes culturas agrícolas. De facto, foi observada uma redução na qualidade (tamanho) de produtos colhidos de algumas culturas no seio dos inquiridos, como o milho”.
“… a extracção mineral pode ocasionar o abaixamento do lençol freático, resultando na diminuição do fluxo de água de rios, entre outros impactos”, como a salinização da água – que é utilizada para a rega dos campos agrícolas; o uso de elevadas quantidades de água para a lavagem do carvão com excesso de cinzas, tal o caso do carvão de Moatize; e o assoreamento das águas dos rios.
Como resultado da actividade mineira o rio Nhacamuanzi secou, e, para suprir a falta de água, a Vale passou a fornecer à comunidade local o líquido precioso em camião tanque. A tentativa de substituição do rio está a ser um fracasso dada irregularidade no fornecimento de água.
A mineração está a impactar negativamente a saúde da população de Moatize, onde a poluição ambiental contribui em 88%, poluição da água (67%), perda de terras (51%) e à poluição do ar (26%). É por esta situação que as famílias optam por abandonar as suas zonas e campos de cultivo para locais de reassentamento, sem saberem, no entanto, quando tão belo dia vai chegar.
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