“O filho dele é Director Adjunto do STAE. Isso é para matar de vez a Renamo”
A eleição do cabeça de lista da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para as eleições autárquicas de 11 de Outubro próximo, na nova autarquia de Balama, província de Cabo Delgado, está a ser contestada por alguns membros nativos do partido.
Fontes locais revelaram ao MZNews que o escrutínio para a escolha do membro da Renamo para as autárquicas de Outubro foi fraudulento. Contaram que o processo foi realizado em duas rondas, onde na primeira venceu uma senhora camponesa.
“Isto gerou descontentamento entre os opositores porque se tratava daquelas senhoras que acorda, põe capulana e vai à machamba”, disse uma das fontes em anonimato.
Na segunda volta, o candidato Simão Amimo, actual Delegado Político do partido em Balama e deputado da Assembleia provincial, venceu a corrida, supostamente, à revelia da maioria.
“Eles seleccionaram as pessoas para entrar na sala onde iam decorrer as escolhas dos candidatos. Quase que não chegavam a 50 pessoas. A maioria das pessoas ficou fora da sala e, por isto [e outros], os membros fundadores da Renamo não aceitam a candidatura de Simão Amimo”, contou.
Aquela e outras fontes ouvidas pelo MZNews disseram que preferem que Balama seja dirigida por um outro membro da Renamo, e “pode vir de qualquer província do país”.
Eles alegam que a eleição de Amimo foi um plano orquestrado entre a Delegação Política da Renamo em Balama e a Delegação Política provincial do partido, a fim de “manter o nepotismo que perdura há vários anos”.
“O Delegado Político de Balama, que é, igualmente, deputado provincial, foi comprado pelo Delegado Político da província. Têm a mesma ideia e comportamento. Fazem conluio”, disse Bruhane Tikweli, membro da Renamo.
No entanto, como forma de contestar a escolha de Simão Amimo para as autárquicas, o grupo de reclamantes reuniu mais de 100 assinaturas para depor o candidato-eleito e, supostamente, submeteu-as à Delegação Político provincial, pela segunda-vez.
Eles alegam ainda que a Direcção Central do partido desconhece a situação real dos seus postos políticos em Balama, acusando a delegação política provincial de não encaminhar as preocupações locais para a sede do partido.
“Os postos de Impiiri, Kuékué, e Mavala não recebem visitas do Delegado Distrital há mais de dois anos e estão fora de funcionamento. O chefe da mobilização nacional conhece o assunto. Apresentei o assunto quando o Delegado de Balama estava presente e respondeu ‘vocês sozinhos vão resolver’. O filho dele é Director Adjunto do STAE. Isso é para matar de vez a Renamo”, contou outra fonte, apelando a presença de uma brigada do partido para se inteirar do funcionamento dos postos.
De acordo com as fontes, a maioria da Renamo em Balama já antecipa uma derrota nas autárquicas, e caso contrário, “podem colocar um jovem qualquer do mercado, que vai ganhar essas eleições”.
Eles suspeitam que a Delegação Política provincial sabe, igualmente, que com o candidato eleito o partido vai perder as eleições. “Ele, propositadamente, está a criar barreiras para a Renamo de modo a deixar a Frelimo passar [nas autárquicas]”.
Ouvido pelo nosso portal, o porta-voz da Renamo, José Manteigas, disse que o partido está a par dos assuntos em Cabo Delgado. Ele fez entender que se trata de um evento comum em períodos pré-eleitorais “e o partido já está habituado”.
“Nós sabemos disso. São mesquinhices que não constituem preocupações para nós. E, em tempos de eleições, isso é normal”, disse Manteigas, remetendo mais esclarecimentos à Delegação Política provincial do partido em Cabo Delgado.
Contactado, o Delegado Político provincial da Renamo, Manuel Alex Muacuane, disse tratar-se de distúrbios criados por um cidadão com aspirações políticas em Balama e que, de qualquer forma, o partido não vai se responsabilizar por actos criminais que possam recair sobre tal indivíduo não reconhecido como membro do partido.
“Estamos em período eleitoral, e, quando é assim, existem várias opiniões internas e externas. Em Balama existe alguém que se deslocou de Nacala para concorrer como cabeça de lista. O partido Renamo, a nível da província, e de forma especial Balama, não reconhece esse cidadão como membro. Dentro do partido não queremos oportunistas”, referiu, Manuel Muacuane, que é igualmente Deputado da Assembleia da República.
Ele explicou que o referido cidadão –também não reconhecido em Nacala – está a criar esses desmandos em retaliação “por não ter sido aceite a sua candidatura”, mas também por estarem a correr vários processos criminais contra ele.
Sobre os vídeos que circulam nas redes sociais, onde supostos membros fundadores e a nova geração da Renamo expressam o seu descontentamento, o Delegado provincial disse que se trata de trabalho forjado.
Ele revelou que já esteve em confrontos com o cidadão e um outro jornalista que “escreveram coisas difamatórias. Questões infundadas e falsas”.
Muacuane desconfia que o cidadão pretende servir-se da Renamo para lograr outros interesses obscuros. “E nós não assumimos qualquer responsabilidade de crime que venha pesar contra ele”.
Ele garantiu que a Renamo está bem organizada em toda a província controlando os seus membros e “quando aparece um intruso é muito fácil distinguir, porque temos ideologias que, o nosso saudoso presidente Afonso Dlhakama e Ossufo Momade nos passa(ra)m como ensinamentos. Ele está a trazer ideologias que não são do partido Renamo”.
A fonte disse que, enquanto Delegado Político provincial do partido, nunca recebeu qualquer queixa, verbal ou por escrito, sobre a actuação do Delegado Político distrital de Balama. “É uma mentira. No meu gabinete não deu entrada nenhum documento”.
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