Um ano de muitas estações

Um ano de muitas estações

Escrito por Joaquim Tobias Dai

As nossas emoções, experiências e expectativas, parecem-se com as estações do ano. São todas importantes, mas o efeito que têm sobre nós são díspares, à sua maneira. Umas alegres e outras nem por isso.

Durante o último ano, andamos obcecados pelo desconfinamento e por diversas razões. Desconfinamento é sinónimo de vitória contra a doença. Significa uma acentuada redução nos níveis de contágio e, consequentemente, o regresso dos negócios e uma nova esperança de prosperidade, qual primavera.  Uma nova esperança, mas também um sentimento de virar de página de um duro inverno que fica para trás. Mas, repetidamente, após a primavera, o inverno voltava e com ela a depressão. Só após a terceira vaga e a chegada massiva das vacinas ao mundo, abraçamos o novo normal e voltamos a procurar correr contra o tempo e procurar alternativas para reduzir os custos da pandemia ou salvar os negócios que ainda podem salvos. 

O ano de 2020 refletiu o corolário de eventos que, desde o ano de 2015, têm motivado o abrandamento do ritmo de crescimento económico em Moçambique, que até então crescia a médias de 6%, constantemente acima do ritmo de crescimento da África Austral.

Foram várias as razões para este abrandamento: desde o impacto da crise económica mundial, a crise cambial que iniciou em finais de 2014, o rasto de destruição deixados por desastres naturais, como os ciclones Idai, Kenneth e Eloise. São também importantes as restrições orçamentais resultantes da suspensão ao financiamento do Orçamento do Estado por parte dos parceiros de cooperação (como resultado da crise das dívidas não declaradas), bem como as consequências do impacto dos ataques na região centro e o terrorismo na província de Cabo Delgado. Finalmente, a pandemia da COVID-19 levou, inevitavelmente, a um abrandamento económico com forte impacto, nomeadamente, nos sectores da construção civil, turismo, transportes e a uma diminuição na procura de matérias primas no comércio internacional.

Finalmente, a pandemia da COVID-19 levou, inevitavelmente, a um abrandamento económico com forte impacto,…

O somatório destes eventos resultou numa contração económica na ordem dos 0,5% em 2020, segundo dados do Banco Africano de Desenvolvimento, o primeiro crescimento negativo nos últimos 28 anos em Moçambique, após um crescimento de 2,2% em 2019. 

International Monetary Fund, no seu World Economic Outlook (WEO), de outubro de 2020assim como o African Economic Outlook, estimam para Moçambique um crescimento 2,1% em 2021 e perspetivas de crescimento mais animadoras para os anos subsequentes,  projetando crescimentos de dois dígitos para os anos de 2024 e 2025. 

Para 2021, segundo o WEO, foi estimado um aumento da inflação em 5,6% (5,3% nas estimativas do AfDB – Banco Africano de Desenvolvimento), atendendo à conjugação de diversos fatores, nomeadamente, a depreciação em 21% do metical face ao dólar americano e o aumento da procura interna no período de recuperação. 

O quadro negativo motivado pelo terrorismo na nortenha província de Cabo Delgado tem um impacto importante na economia moçambicana, que o governo estima em 300 milhões de dólares americanos como o valor necessário para operacionalizar o Plano de Ação de Reconstrução de Cabo Delgado. Mas as perdas totais ainda difíceis de mensurar – principalmente na reputação internacional do país com consequências diretas no nível de captação de IDE. 

O quadro negativo motivado pelo terrorismo na nortenha província de Cabo Delgado tem um impacto importante na economia moçambicana,…

O projecto Coral Sul FLNG, localizado na Área 4, liderado pela petrolífera italiana Eni, anunciou em 01 de Junho de 2017 a sua Decisão Final de Investimento, orçamentada em 7 mil milhões de dólares. Por seu, lado, em Agosto de 2019 Moçambique assistiu a Decisão Final de Investimento do Projeto Golfinho/Atum, a ser implementado na Área 1, liderado pela Total, e orçamentada em 23 mil milhões de dólares norte-americanos. Todos estes planos carecem agora de novos cálculos e novo planeamento de execução, acreditando que se mantém o interesse dos investidores. 

A Total anuncia que mantem forte a intenção de continuar o seu projeto em Moçambique, condicionado pelas razoes de segurança na área. Da mesma forma a companhia aérea de bandeira francesa Air France, que também tinha adiado sem data o início dos voos para Moçambique, já anunciou um adiamento na sua operação para Moçambique, mas não cancelamento, apontando assim o grau de confiança quanto à retoma do projeto e, com ele, a esperança do retorno destes projetos que Moçambique aguarda com muita ansiedade. 

Os choques com que o país teve de lidar neste último ano, devem servir de motivação para uma maior criatividade na procura de soluções…

A CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique, estima perdas para o sector empresarial nacional entre 234 e 375 milhões de dólares americanos, destacando-se, como na larga maioria dos países, o sector turístico como o mais afetado. As perspetivas relativamente às taxas de desemprego foram também revistas, com uma média estimada em 17,5%, com valores díspares entre as diversas cidades, mesmo tendo em conta as limitações na majoração destes dados, dada a forte prevalência de actividades informais e de subsistência. 

Os choques com que o país teve de lidar neste último ano, devem servir de motivação para uma maior criatividade na procura de soluções permanentes para os problemas recorrentes do país. Mas como bem dizemos por cá, a esperança é a última a morrer, e estamos certos de que os choques dos últimos 2 anos nos farão maios fortes e melhor preparados para encarar o futuro com optimismo.

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