Sobre a marcha: Fernando Lima diz que há uma ala no partido Frelimo que é contra democracia

Sobre a marcha: Fernando Lima diz que há uma ala no partido Frelimo que é contra democracia

“Eu acho que estamos perante uma das páginas mais tristes da democracia em Moçambique”, começou por dizer ontem Fernando Lima, comentador e jornalista durante o programa Noite informativa da STV, reagindo à actuação da Polícia no impedimento da marcha em homenagem ao artista Azagaia.

Fernando Lima disse ainda que há uma ala dentro do partido Frelimo que é contra a democracia, que é contra as liberdades.

“Aquilo que nós vimos no sábado é esta ala mais radical, mais extremista de extrema-direita, fascista que através do braço da polícia se foi manifestar e dizer não estamos de acordo com a forma que exercem a democracia em Moçambique. A democracia é para OJM, para OMM e não é para as pessoas que gostavam do Azagaia e queria fazer esta manifestação”, disse Lima.

O comentador entende que não existia nenhuma razão que justificasse o que aconteceu no sábado.

“Eu gostaria que essa agressividade, violência que foi demostrada contra cidadãos pacíficos nas ruas de Maputo, fosse utilizada por exemplo em Cabo Delgado, onde existe uma ameaça ao Estado e ao contrário não vejo essa agressividade contra os bandidos que querem destruir o Estado moçambicano e que destroem propriedade dos moçambicanos e do próprio Estado”, referiu o comentador, acrescento ainda que “há determinados níveis de decisão do partido no poder que não se sentem confortáveis com a democracia”.

Os factos…

Na manhã de sábado (18.03) a polícia moçambicana fortemente armada decidiu barrar com gás lacrimogénio uma marcha em Maputo em homenagem ao ‘rapper’ de intervenção social Azagaia, que morreu há uma semana vítima de doença.

Agentes da autoridade

 

População em diálogo com agente da autoridade

Quando tudo começa…

Em consequência da acção policial mais de dezenas de pessoas foram detidas, e 19 deram entrada no Hospital Central de Maputo (HCM), vítimas de agressão física, protagonizada pela PRM, e um cidadão de nome Inocêncio Manhique perdeu um olho, depois de ter sido atingido por uma bala disparada pela Polícia, na cidade de Maputo.

A acção policial inviabilizou ainda alguma actividade comercial de alguns comerciantes nas artérias da cidade de Maputo que na altura estava em curso. Houve pessoas que viram os seus bens destruídos.

Eu acho que estamos perante uma das páginas mais tristes da democracia em Moçambique

 

Na cidade da Beira, capital provincial de Sofala, 12 pessoas foram detidas e uma ficou ferida, uma atitude considerada “um padrão perturbador de tácticas imprudentes e ilegais contra as pessoas durante os protestos” pela Amnistia Internacional.

Sabe-se que as manifestações inviabilizadas nas cidades de Maputo, Xai-Xai e Beira tinham sido comunicadas às autoridades municipais locais com a devida antecedência, tal como manda a Lei, mas no lugar de garantir a protecção e segurança aos manifestantes, a Polícia usou da força para impedir a realização das marchas, alegando ter recebido “ordens superiores”.

Organizações da sociedade civil, ordem dos advogados e juristas falam da violação dos direitos humanos e da própria Constituição da República. Segundo alguns juristas que falavam a um canal de TV nacional, há aqui um espaço para que o Estado seja responsabilizado.

O cenário tem estado a merecer destaque também na imprensa internacional. Diversas organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas já emitiram comunicado a condenar a acção da polícia de Moçambique.

Neste momento nem as autoridades governamentais e nem mesmo a polícia já vieram ao público para se pronunciar sobre o sucedido.

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